A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) criou o Grupo Vita para acompanhar os casos de abuso sexual na Igreja Católica. Em dois anos, já recebeu 78 pedidos de compensação financeira.
«O grupo Vita completa hoje dois anos e diria que o balanço é globalmente positivo», aponta a coordenadora, Rute Agulhas, à Lusa. No total, foram registados 130 pedidos de ajuda e 78 pedidos de compensação financeira.
Até 31 de março, a data limite para os pedidos, existiram «75 pedidos de compensação financeira, 57 destes relativos a dioceses e os restantes relativos a diversas congregações religiosas», diz a mesma. Depois do prazo, receberam-se mais três pedidos, totalizando 78.
Destas, «até ao dia de hoje, foram já avaliadas 51 pessoas», acrescenta.
«As restantes estão agendadas até ao final de julho… [e] voltamos a reiterar o compromisso do grupo Vita de enviar até final de agosto todos os pareceres, todos os relatórios de todas as pessoas que entretanto naturalmente serão avaliadas». Depois, a comissão organizada pela Igreja Portuguesa vai discutir os montantes indemnizatórios.
«Da nossa parte, esta parte do processo fica feita e será perfeitamente viável que a partir de setembro o grupo de fixação das compensações comece a trabalhar», vinca Rute Agulhas. Segundo a mesma, o que espera é que se possa «corresponder aquele que foi o compromisso da própria Igreja, da própria CEP, que esperava que todos estes processos tivessem concluídos até ao final do ano».
Grupo contou com início «difícil»
«Numa primeira fase, sentimos alguma desconfiança, não só por parte das pessoas de uma maneira em geral, mas sobretudo por algumas estruturas da Igreja», partilha Rute Agulhas. Nestas, existia «menos disponibilidade», «quase como se o grupo Vita estivesse a impor-se ou ocupar aqui um espaço que algumas estruturas sentiam como sendo delas».
No entanto, a «resistência tem vindo a esbater-se de forma gradual», garante. Isto prova-se com o facto de existirem ações de capacitação em 13 das 21 dioceses portugueses e, ainda, iniciativas em alguns institutos de vida consagrada.
«Até ao dia de hoje temos 130 pedidos de ajuda, na sua maioria mantém-se o perfil de pessoas mais velhas, pessoas que já foram abusadas há algumas décadas no contexto da Igreja», aponta.
Os pedidos das vítimas dependem «muitas vezes do mediatismo que a comunicação social também vai dando a estes processos», verificando-se picos com mais expressão, como foi o caso da vinda de Papa Francisco a Portugal pela Jornada Mundial da Juventude ou quando se apresentam dados.
Do total das 130 vítimas, cerca de 30 têm «acompanhamento psicológico regular», revelou ainda.
Em ações de sensibilização e capacitação, até ao momento, foram abrangidas mais de 3.600 pessoas.
«No que diz respeito à investigação, o grupo Vita tem salientado a importância de se fazer aqui um diagnóstico desta realidade para melhor saber, intervir e para melhor saber prevenir», explica Rute Agulhas.
O grupo já concluiu três estudos, apresentados em janeiro, mas há outros em fase de conclusão, relacionados com prevenção primária. É o caso do programa “Girassol”, sendo um «jogo digital para crianças dos 10 aos 12 anos» a ser apresentado no externato São José, em Lisboa, no final de setembro.
Este aposta nas «melhores práticas pedagógicas» e quer «criar uma Igreja mais segura e mais protetora», vinca.
A 27 de novembro, realiza-se um congresso internacional sobre o tema em Fátima, para «pensar um pouco o papel da Igreja Católica, não só na prevenção, mas também na resposta à violência sexual», termina.