Os insultos dirigidos ao avançado maliano Moussa Marega no domingo, no encontro entre FC Porto e ao Vitória de Guimarães, da 21.ª jornada da I Liga, compõem o mais recente episódio de racismo associado ao futebol.
O antigo jogador dos vimaranenses ouviu cânticos discriminatórios vindos das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques e pediu para ser substituído ao minuto 71. A Lusa recorda alguns dos casos.
Marega, de 28 anos, juntou-se a uma longa lista de jogadores que já se viram envolvidos em episódios racistas ao longo dos anos, tornando-se mesmo o primeiro jogador a sair de uma partida de futebol por vontade própria em solo português.
SC BRAGA E VITÓRIA DE GUIMARÃES
O último caso do género no escalão máximo deu-se em Novembro de 2017, quando o Sporting de Braga foi punido com um jogo à porta fechada e uma multa de 22.950 euros devido aos actos discriminatórios dos adeptos no triunfo sobre o Desportivo das Aves (2-0), em 20 de Agosto, da terceira jornada da I Liga. O presidente António Salvador classificou a decisão do Conselho de Disciplina da FPF como “uma afronta” ao clube minhoto, que recorreu e foi ilibado em Janeiro de 2018.
O racismo também chegou ao futebol feminino e a avançada norte-americana Shade Pratt revelou ter sido vítima de ofensas de uma adepta do Cadima na goleada imposta pelo Sporting de Braga em Cantanhede (7-0), em 13 de Outubro, na terceira jornada da I Liga.
A 30 de Dezembro de 2018, o Vitória de Guimarães anunciou uma exposição à FPF, alegando que a equipa sub-15 e familiares dos jogadores foram vítimas de racismo e de agressões na goleada imposta no recinto do Boavista (4-1), da quinta jornada da segunda fase do campeonato nacional, caso desmentido pelos ‘axadrezados’.
A 12 de Fevereiro de 2018, o defesa costa-marfinense Konan, do Vitória de Guimarães, lamentou nas redes sociais ter recebido mensagens com insultos racistas nas horas subsequentes à derrota com o Boavista (1-0), para a 22.ª jornada da I Liga.
RIO AVE E LEIXÕES
Rio Ave enfrentou uma coima de 536 euros em Março de 2017, onze meses após cânticos racistas proferidos contra o médio Renato Sanches, que ajudou o Benfica a vencer (1-0) na 31.ª ronda do campeonato.
O Leixões, da II Liga, é o clube português mais reincidente nesta matéria, pois pagou 16.421 euros em Março de 2016 e foi obrigado a arrancar a época seguinte com dois jogos sem público, por causa das acções dos adeptos na visita ao Desportivo das Aves (0-1) e nas recepções ao Farense (1-1) e Oriental (3-3).
Três anos antes, em Abril de 2013, a FPF determinou que os matosinhenses defrontassem os avenses à porta fechada, na 35.ª jornada da II Liga, aplicando a primeira pena em Portugal por comportamento racista dos adeptos, a partir dos incidentes verificados na recepção ao Belenenses (1-1), da 11.ª ronda, em 27 de Outubro de 2012.
A sanção aplicada ao Leixões assentou na violação do artigo 113.º do Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que pune “comportamentos discriminatórios em função da raça, religião ou ideologia”, mas foi suspensa com uma providência cautelar aceite pelo Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.
CASO BERNARDO SILVA
A nível europeu, a UEFA e diversos organismos nacionais têm apertado o combate ao racismo, como evidenciou a federação inglesa em Novembro de 2019, ao culpar o internacional português Bernardo Silva de conduta imprópria e ofensiva num ‘tweet’ sobre o francês Benjamin Mendy, colega de equipa no Manchester City.
Apesar da investigação ao incidente ter concluído que a imagem não tinha como objectivo ofender o defesa, colega de equipa e amigo desde os tempos em que ambos jogavam no Mónaco, o avançado foi suspenso por um jogo e multado em quase 60.000 euros e trabalho comunitário obrigatório junto da comunidade infantil, tendo o extremo falhado o triunfo caseiro sobre o Chelsea (2-1), dez dias depois, da 13.ª do campeonato.
APURAMENTO EURO2020
Entre Setembro e Outubro de 2019, Roménia, Hungria e Eslováquia foram castigados com um jogo à porta fechada pelo Comité Disciplinar da UEFA, devido a comportamentos racistas dos adeptos, materializados em cânticos e tarjas ofensivas durante a qualificação para o Euro2020. Os romenos foram multados em 83.000 euros, os húngaros tiveram de desembolsar 67.125 e os eslovacos pagaram 20.000 euros.
A Sérvia recebeu correctivo semelhante, traduzido numa coima de 33.250 euros, ficando ainda sujeita a um período de liberdade condicional de um ano pelo Comité Disciplinar da UEFA, por manifestações racistas na derrota com Portugal (4-2), em 7 de Setembro.
Também a Bulgária foi punida com dois jogos à porta fechada, um dos quais com pena suspensa, e uma multa de 85.000 euros pelo Comité Disciplinar da UEFA, tendo por base cânticos racistas e saudações nazis na goleada sofrida em casa com a Inglaterra (6-0), em 14 de Outubro, na qualificação para o Euro2020.