Um projecto da Universidade do Algarve (UAlg) está a testar formas de afastar os golfinhos de artes de pescas através de alarmes sonoros, diminuindo a sua mortalidade e os prejuízos para os pescadores. Já esta semana a Comissão Europeia considerava os níveis de capturas acidentais “inaceitáveis”.
“Os ensaios estão a decorrer e no caso das redes de emalhar são muito promissores, com 100% de sucesso na redução das capturas acidentais de cetáceos”, revelou à Lusa a investigadora Ana Marçalo, uma das coordenadoras do projecto iNOVPESCA.
Desde Junho passado que os alarmes acústicos estão a ser testados em redes de embarcações de Olhão, Quarteira (Loulé) e ilha da Culatra (Faro), fazendo a monitorização do sistema para perceber “os seus efeitos e eventual habituação dos animais”.
A habituação dos cetáceos ao sistema pode vir a ser um problema, admitiu Ana Marçalo, já que se trata de animais “bastante inteligentes”.
Numa primeira fase, foi feito um levantamento da captura acidental de animais marinhos (cetáceos, aves e tartarugas) no Algarve, com os resultados a revelarem a pesca do cerco e as redes de tresmalho e emalhar (fixas na coluna de água) como “as mais problemáticas”, principalmente na zona do sotavento (leste).
A conservação das espécies é uma das preocupações do projecto, já que a captura acidental contribui para uma “mortalidade considerável”, além dos prejuízos causados devido aos danos nas artes de pesca, referiu a investigadora.
Mostrando-se optimista face os resultados obtidos nos testes já realizados, Ana Marçalo alertou, no entanto, para o facto de o tamanho da frota tornar “impraticável a colocação dos alarmes em todos os barcos”, o que iria “aumentar o ruído” no ambiente marinho e “afastar os animais do seu habitat natural”.
A instalação dos alarmes fica a “custo zero para os profissionais da pesca”, mas cada um “tem um valor de 2.500 euros” e precisam de ser colocados “a cada 400 metros”, em redes que podem chegar a vários quilómetros.
ALERTA DA COMISSÃO EUROPEIA
A Comissão Europeia enviou cartas aos ministros do Mar de Portugal e de outros 21 Estados-membros da União Europeia (UE), para que encontram soluções para as capturas acidentais de golfinhos e outros animais marinhos nas águas comunitárias.
Na declaração divulgada esta semana, o comissário europeu Virginijus Sinkevičius observa que, em toda a UE, “os níveis de capturas acidentais são inaceitáveis”, podendo levar à “extinção de populações locais de espécies protegidas”.
De acordo com Virginijus Sinkevičius, este problema acontece “em todos os mares da UE”, pelo que defende que os Estados-membros actuem em conjunto para garantir uma “aplicação integral e eficaz” das leis comunitárias.