O movimento de peregrinos no caminho português pela costa até Santiago de Compostela, na Galiza, caiu mais de 84% em relação ao mesmo período de 2019, apesar da reabertura de fronteiras entre Portugal e Espanha, fechadas devido à covid-19.
“Por esta altura, em 2019, teríamos uma média de 120 peregrinos, por dia, a caminho de Santiago de Compostela. Hoje, temos cerca de 20 pessoas a fazer o percurso secular até à catedral da capital da Galiza”, disse esta terça-feira à Lusa Alberto Barbosa, o presidente da Associação dos Amigos dos Caminhos Santiago de Viana do Castelo.
Segundo Alberto Barbosa, mais de um mês depois da reabertura de fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha, no dia 1 Julho, o caminho português pela costa, que parte do Porto e passa pelo Minho até Santiago de Compostela, é percorrido sobretudo por “italianos, espanhóis, alemães e portugueses”.
O surto do novo coronavírus quase parou aeroportos, repôs fronteiras entre Portugal e Espanha e impediu a peregrinação rumo à catedral de Santiago, encerrada desde 13 de Março, para venerar as relíquias do santo. A pé, a cavalo ou em excursões, no ano passado o caminho atingiu um recorde, com 350 mil peregrinos.
O ‘pico’ da presença dos peregrinos na região começa em Março e estende-se até final do Verão, mas encontram-se caminhantes todo o ano.
Em 2019, os municípios de Valença, no Alto Minho e Tui, na Galiza, registaram um “novo recorde de peregrinos” com 88.310 pessoas a passar ou a começar aquele trajeto religioso naquela eurocidade.
Segundo o responsável, hoje, o “fluxo muito reduzido” mantém encerrados “muitos estabelecimentos comerciais” que, ao longo do percurso, vivem daquele produto de turismo religioso.
“Há cafés e restaurantes que ainda estão fechados porque o movimento de peregrinos não justifica a abertura”, especificou.
De acordo com o responsável pela Associação dos Amigos dos Caminhos Santiago de Viana do Castelo, os albergues municipais ou associativos continuam encerrados, sendo o alojamento privado a única alternativa para os peregrinos.
“Podem ficar alojados em hostels, alojamento local ou hotéis”, apontou, destacando como “dado muito positivo” não haver “conhecimento de nenhum caso de covid-19 entre peregrinos”: “Isto só vem mostrar que as pessoas estão a cumprir os cuidados recomendados pelas autoridades de saúde”.
No distrito de Viana do Castelo, Valença, Paredes de Coura e Ponte de Lima, tem albergues municipais.
Em Caminha, o albergue é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Caminha, mas é gerido pela Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela.
Em Viana do Castelo, há um espaço na freguesia de Castelo de Neiva, gerido pela Associação de Apoio ao Peregrino, e outro no Convento do Carmo, no centro da cidade.
No início deste mês, Portugal deixou de fazer parte da lista de países e territórios cujos viajantes para a Galiza tinham constrangimentos, no âmbito da pandemia de covid-19.
A decisão foi publicada oficialmente pela Xunta da Galiza (o governo desta comunidade autónoma) e confirmado à Lusa pelo ministro Augusto Santos Silva.
Santos Silva explicou que o Governo pediu esclarecimentos às autoridades galegas, o que aconteceu numa reunião entre o presidente da Xunta da Galiza, Alberto Feijóo, e o embaixador português em Madrid, João Mira Gomes.
O encontro serviu para esclarecer que não havia restrições à circulação de pessoas oriundas de Portugal na Galiza, mas sim uma recomendação das autoridades de saúde galegas para que os viajantes se registassem, tornando um eventual contacto mais rápido e fácil.
A catedral de Santiago é o quarto monumento mais visitado de Espanha. Foi declarada Bem de Interesse Cultural em 1896, sendo que o conjunto da cidade velha de Santiago de Compostela está classificado como Património Mundial da UNESCO.
Em Santiago de Compostela celebra-se o Ano Santo, também conhecido por Jacobeu, sempre que o dia 25 de Julho, dia de Santiago Maior, coincide com um domingo. Sucede numa sequência temporária de seis, cinco, seis e 11 anos e é celebrado desde a Idade Média, por disposição papal.
Actualmente podem identificar-se três percursos principais: o Caminho da Costa que parte do Porto e atravessa o Minho até Espanha, o Caminho Interior, que liga Viseu a Chaves, com saída para Espanha por Vilarelho da Raia, e o Caminho Central Português que sai da Sé de Lisboa e passa por Tomar, Coimbra até entrar no Porto e seguir depois para Norte.