O Concelho de Amares assinalou esta terça-feira, através de uma sessão comemorativa, o 49º aniversário do 25 de Abril de 1974.
A sessão arrancou no pátio exterior da Câmara de Amares com o já habitual “içar das bandeiras” ao som do hino nacional, desta feita tocado pela Banda Filarmónica de Amares. De seguida foi colocada uma coroa de flores junto ao monumento dos ex-combatentes e feita a “revista às forças em parada”, pelo presidente da Câmara Municipal, Manuel Moreira, e pelo presidente da Assembleia Municipal, João Januário Barros.
A cerimónia prosseguiu posteriormente no salão Nobre dos Paços do Concelho, onde actuaram, em diferentes momentos, a Banda Filarmónica de Amares, o CEM Luís Capela, a AECA e ainda a AFAM.
HOMENAGEM AOS FUNCIONÁRIOS COM 30 E 35 ANOS “DE CASA”
Por forma a aproveitar a ocasião, do programa constou também uma homenagem – através da entrega de medalhas – a 16 funcionários municipais com 30 e 35 anos “de casa”, um «reconhecimento» pelos «bons serviços e dedicação à causa pública prestados».
Pelos 30 anos de serviço na Autarquia e com a atribuição de uma medalha de prata foram premiados José Malheiro, António Manuel Almeida, Alexandre Dias, Delfim Rodrigues, Paula Fernandes, Maria Helena Amaro, Orlanda Ramôa, Francisco Fernandes, José Manuel Gomes, Maria Helena Barreiro, Francisco Soares, Domingos Ribeiro, Augusto Rodrigues de Macedo, Rui Veloso.
Quanto à distinção por 35 anos “de casa” e com a atribuição de uma medalha em ouro foram distinguidos Fernando Rodrigues e Fernanda Costa.
«TOMEMOS UM POUCO DE CORAGEM E DEDICAÇÃO DOS “HERÓIS DE ABRIL” PARA RESOLVER OS PROBLEMAS DA NOSSA SOCIEDADE»
Como habitual, na ocasião das comemorações tem usado da palavra um aluno da Escola Secundária de Amares. No presente ano, o escolhido foi Tomás Sousa – também ele presidente da Associação de Estudantes do referido estabelecimento de ensino – que começou por questionar os presentes: «Passados 49 anos desde o novo amanhecer de Portugal, fomos capazes de honrar os esforços dos lendários soldados da Revolução dos Cravos e solucionar os problemas herdados da Ditadura?».
Em jeito de resposta, o jovem amarense apontou que «é possível, sim, com aspectos positivos conquistados nos anos de Democracia, principalmente ao nível da Saúde, Educação e Libertação Feminina, mas estamos longe de nos transformarmos numa utopia sonhada pelos “heróis de Abril”».
Mais à frente, o estudante sublinhou que «nestes últimos anos, sinto que temos vindo a perder muito da nossa essência. Deixamos de ser um povo unido e passamos a ser apenas mais um conjunto de individualidades em que ninguém possui a coragem de assumir culpas e responsabilidades e todos se colocam em primeiro lugar, deixando de lado os outros que se encontram numa situação pior que a nossa. O passo rumo à prosperidade passaria por recuperarmos a nossa essência e tornarmo-nos num povo mais unido, trabalhando juntos em prol de uma sociedade melhor».
Pera terminar, Tomás Sousa deixou no ar uma sugestão, tendo em conta a especial data que se assinala: «Aproveitemos esta data para reflectir, interiorizando os erros que temos cometido. Temos de trabalhar neles para que a cada dia nos tornemos pessoas melhores e cidadãos mais proactivos. Tomemos um pouco da coragem e dedicação dos “heróis de Abril” para que juntos possamos começar a resolver os pequenos problemas da nossa Sociedade e do espaço que nos rodeia, sendo influentes e procurando saber mais sobre as decisões tomadas pelos governantes».
SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE AMARES
Terminada a primeira parte das celebrações, teve início a sessão solene da Assembleia Municipal de Amares, onde discursaram os líderes das bancadas do referido órgão, o presidente de Câmara e o presidente da Assembleia Municipal.
«ACONTECIMENTO MAIS IMPORTANTE DA NOSSA HISTÓRIA RECENTE»
O primeiro a usar da palavra foi Domingos Paulo, do PS, que referiu: «O 25 de Abril traduz um momento histórico assinalável, pois podemos celebrar hoje e aqui esta data que nos congrega, sabendo que estamos há mais anos em Democracia do que estivemos sob a Ditadura».
«O legado de Abril é incontestável, desde logo pelo carácter pacífico e original da Revolução dos Cravos. Depois, por temos consolidado uma Democracia sustentada numa constituição avançada decorrente de eleições livres, sem esquecer a integração bem sucedida na União Europeia, junto de parceiros vigorosamente democráticos e democratas. Finalmente, pela melhoria acentuada da qualidade de vida da generalidade da população, designadamente nas áreas da Educação e Saúde», denotou o socialista.
Na conclusão, Domingos Paulo reforçou, contudo, que «nada está garantido», face às muitas mudanças e contextos vividos à escala global, sendo necessário «cultivar o optimismo e trabalhar no mundo que nos foi legado, deixando-o ainda melhor para os nossos filhos e netos».
«Agora que o tempo decorrido em liberdade superou os longos anos de Ditadura, saibamos honrar todos aqueles que, com uma enorme coragem e altruísmo, fizeram do sonho realidade», atirou.
«DEFENDER SEM CONCESSÕES A DEMOCRACIA COMO VALOR MAIOR E IMPRESCINDÍVEL»
Do lado do “Juntos Por Amares” subiu ao púlpito Sérgio Guimarães de Sousa, que começou por enaltecer que o «populismo, as inverdades e as distorções ideológicas de todo o tipo proliferam», afigurando-se «decisivo revalidar essa pertença e defender sem concessões a democracia como valor maior e imprescindível».
«Para que a Democracia se exerça com qualidade e plenitude, torna-se forçosa a existência de uma sociedade civil participativa, exigente e capaz de se empenhar civicamente e fiscalizar o poder instituído. A nossa Democracia, como todas, não é um dado adquirido, é sim uma realidade a exigir uma constante devoção. Precisamos, agora, de melhorar essa Democracia», destacou Sérgio Guimarães de Sousa.
Num último momento, o líder da bancada do “Juntos Por Amares” deixou claro: «Saibamos preservar aquilo que nos une para que as próximas gerações também se possam orgulhar de nós, tal como nós nos orgulhamos dos nossos militares no 25 de Abril de 1974».
«A LIBERDADE NÃO PODE SER NUNCA UMA PALAVRA GASTA»
Findas as intervenções dos líderes de bancada foi a vez de Manuel Moreira usar da palavra. O autarca iniciou a sua intervenção expondo alguns aspectos «positivos» trazidos e desenvolvidos no seio de um sistema democrático.
«A Democracia devolveu às famílias os presos políticos e permitiu a liberdade de expressão e de pensamento. Trouxe os jovens da guerra e a descolonização desencadeou a luta pela igualdade de género e oportunidades. (A Democracia) promoveu mais a justiça social e a tolerância, trouxe um Sistema Nacional de Saúde para todos e mais e melhores infra-estruturas básicas, mais escolaridade, melhor qualidade de vida e maior esperança média de vida», revelou Manuel Moreira.
Ainda sobre o mesmo modelo de governação, o presidente de Câmara sublinhou que este tem «espaço para construir consensos e diálogos, mas também para expressar opiniões e ideias divergentes. A Revolução de Abril representa o romper com o passado que devemos lembrar, sobretudo para que o caminho traçado seja sempre em frente, no sentido de um maior compromisso e concretização com os objectivos de desenvolvimento que ainda não estão cumpridos».
«Somos filhos da Democracia. Ricos, pobres, novos, velhos, de diversos credos ou religiões, de diferentes escolhas políticas ou sexuais. Somos esse português que “partiu a monte” para o mundo e está aqui para fazer parte deste Portugal diverso. A liberdade não poder nunca ser uma palavra gasta, mas antes uma palavra que abre horizontes, respira, cresce e se constrói», concluiu.
«CRUCIAL CONTINUAR A DEFENDER OS VALORS DEMOCRÁTICOS»
Para encerrar a sessão subiu ao palco João Januário Barros, presidente da Assembleia Municipal de Amares, que destacou ser «nossa responsabilidade passar este testemunho de geração em geração, para que o presente não se perca no passado».
«Celebramos, hoje, a Revolução de Abril e da Democracia, pois acreditamos no seu poder e promessa. Acreditamos que mais nenhum modelo de governo é mais eficaz na promoção do crescimento e que esta promove a liberdade individual, a estabilidade e a confiança necessárias para o bom funcionamento da Paz, da Justiça e da Inclusão Social. Acreditamos que a veracidade é a nossa maior força», reforçou.
Mais à frente, Januário Barros acrescentou ser «crucial continuar a defender os valores democráticos e a luta pelos direitos e liberdades individuais, mesmo que com as mudanças sociais e políticas. Para garantir que essa mensagem seja infalível para as próximas gerações, precisamos de ser um exemplo na acção política. È imperativo que os municípios estejam comprometidos com a transparência e o acesso à informação. Ao fortalecer a democracia local e garantir a participação activa e informada dos cidadãos na tomada de decisões políticas, estaremos a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e democrática». finalizou.