A educação é um dos sectores mais reivindicativos e, por consequência, com mais paralisações. Os professores andam numa roda-viva, e bem, para fazerem o Governo cumprir a promessa de restabelecimentos dos cortes salariais e congelamentos da carreira. Quem não pode, não promete, e os políticos, para quem tudo vale, só podem sofrer as consequências pelas suas diatribes verbais.
Que fique bem claro, parece-me de total justiça a luta dos professores e já a recente “manifestação” (assim mesmo entre aspas) dos alunos não faz qualquer sentido. Uma publicação no Facebook, sem cara e sem assinatura, difundida, tal como as fake news, de forma massiva, com motivos, no mínimo, ridículos não abona em nada os alunos de hoje. Não haverá situações graves nas escolas que motivem a real preocupação dos estudantes? Não estarão hoje os alunos demasiado dependentes das novas tecnologias, acéfalos e sem qualquer linha de pensamento? Para se ter ideias, motivações é preciso pensar, estudar, ler e perceber. E isso não é um ecrã de uma qualquer tecnologia que proporciona.
Os alunos de hoje são os votantes de amanhã. Sabem eles quem são os Bolsonaro’s, Trump’s ou um qualquer ditador coreano e como chegaram ao poder? Ou vão continuar entretidos com um alegado excesso de carga horária? A história vem demonstrando que comunidades educativas sem pensamento livre, democrático e reflexivo acabam por transformar as sociedades em “carneirismos” e à mercê um qualquer putativo ditador.
Não resta dúvida de que a educação interfere directamente na formação humana e na construção do sujeito e, por isso, nada mais justo do que profissionais valorizados e recursos financeiros suficientes para investimento em projectos escolares. Ora, se os professores e (alguns) pais já perceberam que há um desinvestimento na educação (e não falo em infra-estruturas), os alunos continuam entretidos com a carga horária ou com “cartas” anónimas saídas de uma qualquer página anónima do Facebook.
Para que não restem dúvidas, a escola pública que ‘queremos’ deve ser construída dentro da escola que ‘temos’, além disso, as políticas educacionais governamentais devem orientar propostas de uma educação realmente democrática e fundamentalmente colectivas. Na missão da Escola, todas as pessoas são necessárias e ninguém pode ou deve delegar as suas tarefas e responsabilidades.
Uma acção educativa de resistência só se configura como possível na presença de um trabalho cultural, social, ético e político, que requer a participação da família e dos alunos. Mas os professores têm aqui um papel crucial: é importante lembrar que uma das funções das instituições educacionais é colaborar para uma sociedade mais democrática e igualitária e, assim, possibilitar o acesso à informação a todos.