A Câmara Municipal de Amares promoveu, esta segunda-feira, uma cerimónia comemorativa do 48º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974.
De regresso aos moldes “habituais”, a cerimónia iniciou pelas 10h com o tradicional hastear das bandeiras, seguindo-se uma homenagem aos ex-combatentes com a deposição de uma coroa de flores no monumento junto aos Paços do Concelho.
A manhã ficou ainda marcada por vários momentos musicais e culturais, que estiveram a cargo da Banda Filarmónica de Santa Maria de Bouro, do Centro de Estudos Musicais Luís Capela e da Associação Fluir Artes Musicais. Já no interior do Salão Nobre foram homenageados e distinguidos alguns trabalhadores da autarquia, seguindo-se um momento de discursos que contou com as intervenções de Elizabete Macedo (Juntos Por Amares), Mónica Silva (PS), Manuel Moreira (Presidente da Câmara Municipal) e João Januário Barros (Presidente da Assembleia Municipal). Usaram ainda da palavra dois alunos da Escola Secundária de Amares, Ana Celonenco e Tiago Pinheiro.
«É HORA DE DAR MAIS VALOR AO OUTRO»
No uso da palavra, Elizabete Macedo, do “Juntos por Amares”, propôs uma «análise à liberdade em dois planos».
«A minha proposta para este ano é analisarmos a liberdade em dois planos, o das pessoas e o da política. De acordo com o dicionário da Porto Editora, a Liberdade é o direito de qualquer cidadão poder agir sem coerção ou impedimento segundo a sua vontade, desde que dentro dos limites da Lei. Para Ganhdi, a prisão não são as grades e a liberdade não é a rua. Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência. Já Simone de Beauvoir considerava que somos indivíduos livres e a nossa liberdade condena-nos a tomar decisões durante toda a nossa vida. Assim, o ser humano completamente isolado não poderá experenciar a sua liberdade plena, nomeadamente a social, precisando da interação com os outros para se desenvolver. Por esse motivo, para analisarmos a liberdade, temos de a pensar num contexto de sociedade, de reciprocidade e interacção. De acordo com o conceito, durante vários anos podemos considerar que fomos verdadeiramente livres, mas um inimigo invisível fez com que quase durante dois anos fossemos privados das nossas liberdades mais fundamentais, como a social e a de circulação. Tudo isto resulta de sermos um País cada vez mais global e menos individual, pois tudo o que se passa pelo resto do mundo afecta-nos de igual forma. Agora – que aos poucos já retomamos a nossa liberdade, quer de circulação quer de contacto – é hora de dar mais valor ao outro», denotou.
«CRAVO É O SÍMBOLO DA ESPERANÇA E DA DEMOCRACIA»
Já Mónica Silva, do PS, realçou ser «impossível desassociar o 25 de Abril à imagem do cravo, símbolo máximo da revolução. Esta flor é vista por outras culturas como símbolo de força, amor, paixão e a vitória em grandes lutas. Para nós portugueses, é tudo isso e muito mais. É o símbolo da esperança e da democracia. Este cravo representa todos aqueles que lutaram para que hoje possamos pendurá-lo ao peito com liberdade, com orgulho e também respeito, por forma a homenagear todos aqueles que muitas vezes pagaram com as sus vidas a nossa liberdade, seja com a clandestinidade seja com a morte. Assim, prestemos todos os dias a devida homenagem aos capitães de Abril, eternos merecedores da nossa gratidão».
Para a socialista, «se um cravo é visto por todos como um símbolo de esperança, luta e recordação por aqueles que lutaram, cada uma das suas pétalas representa muitas das vitórias que a revolução nos trouxe. A liberdade de imprensa, de ideias e dos entraves de uma ditadura que nos subjugou a viver com medo. Representam a paz que nos libertou de uma guerra colonial e que somente com uma revolução começou a sarar. Representam a igualdade, onde as mulheres e as minorias começaram a ser vistas por igual e a ter os mesmos direitos daqueles que sempre foram vistos como sendo superiores. Tornaram-se donos da sua liberdade, não se submetendo a ser menos do que aquilo que merecem e têm direito de ser. A pétala do Estado de direito trouxe-nos a soberania popular, o pluralismo da expressão e organização de política democrática, permitindo que hoje estejamos aqui a representar diferentes ideias e partidos».
«Todas estas pétalas assumem um papel essencial para a beleza e resistência do cravo no seu conjunto e formam aquilo que estamos aqui a celebrar hoje, a democracia», atirou.
«PARA PENSAR O FUTURO É NECESSÁRIO OLHAR COM ORGULHO PARA A FORMA COMO FIZEMOS HISTÓRIA»
Durante a sua intervenção, o Presidente da Câmara Municipal de Amares, Manuel Moreira, sublinhou que «o passado dia 24 de Março fica registado como a data em que no nosso País o regime democrático superou em longevidade o regime autoritário que o antecedeu. Hoje, celebramos com todo o simbolismo o primeiro 25 de Abril em que os dias de democracia são mais do que os dias de ditadura, um marco feliz da história de Portugal».
Mais à frente, o autarca sublinhou que «no rescaldo de uma pandemia que abalou as nossas convicções e modelos de vida, deparamo-nos agora com a instabilidade provocada pela guerra. Não sabemos as consequências deste conflito mas conhecemos a inevitabilidade dos danos humanitários, económicos, sociais e políticos que já lhe estão associados».
«Numa democracia que hoje está mais madura e enfrenta outras questões para ser bem-sucedida, sabemos que há muito a fazer para concretizar o concelho que os amarenses idealizam e legitimamente ambicionam. No horizonte próximo temos a transferência de competências em diversas áreas, mas também a instabilidade económica fruto da especulação de matérias-primas e energia, que terá consequências na capacidade de concretização de projectos. É necessário prosseguir um caminho de atractividade económica, inovação e melhoria das acessibilidades, acções na área do ambiente e clima, mobilidade, desenvolvimento sustentável, infraestruturas de águas residuais e abastecimento de água», disse Manuel Moreira, prosseguindo, «creio que, para pensar o futuro é necessário olhar com orgulho para a forma como fizemos história e passar o testemunho aos jovens, olhos nos olhos. Porque neste meio tempo (48 anos de ditadura e 48 anos de democracia) temos ainda possibilidade de diálogo entre os obreiros da revolução e os capitães do futuro», concluiu.
«JOVENS SÃO A GARANTIA DO FUTURO»
Também João Januário Barros, Presidente da Assembleia Municipal de Amares, destacou que «os jovens são a garantia do futuro com as suas perspectivas, novos horizontes e desafios. Porém, sabemos que, ao terem como garantida a liberdade e a democracia, existe uma certa desvalorização pela sua conquista e manutenção. Além disso, na ausência de respostas aos seus problemas, recorrem, cada vez mais, ao voto de protesto em movimentos antissistema, exploradores da incerteza e descontentamento, que colocam em causa os ideias de abril. Precisamos de afirmar que as principais funções da democracia são a protecção dos direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, religião, orientação sexual, igualdade de género, protecção legal, e as oportunidades de participação na vida política, económica, e cultural da sociedade».
«Se acreditamos que os jovens são a garantia do futuro temos que ser consequentes, temos que os ouvir, temos que lhes dar as respostas que precisam, temos que os deixar voar», frisou.