A socialista Ana Gomes anuncia oficialmente na próxima quinta-feira a candidatura à Presidência da República, avançou a própria ao jornal Público. “Serei candidata”, disse Ana Gomes ao diário, remetendo declarações adicionais para o dia da apresentação oficial.
O Público escreve na edição desta terça-feira que, antes desta decisão, a diplomata teve vários encontros em que “defendeu a importância fundamental que uma eleição presidencial tem para o debate político, mais ainda actualmente quando surgem projectos políticos de extrema-direita com candidaturas a Belém, como é o caso do Chega, com André Ventura.
Ana Gomes, segundo o jornal, considera “um erro” o PS não ter um candidato próprio e “nunca quis uma candidatura que dividisse o partido”.
Contudo, “a partir do momento em que [António] Costa e outros socialistas apoiaram, ainda que indirectamente, uma eventual recandidatura de Marcelo [Rebelo de Sousa], achou que a sua voz de esquerda podia ser útil para o debate”.
Segundo o jornal, “já depois de revelar que estava a ponderar avançar, Ana Gomes teve vários apoios dentro e fora do PS, como o do também socialista Francisco Assis, o de Ricardo Sá Fernandes, dirigente do Livre, e do professor universitário Nuno Garoupa, entre outros”.
Entre as vozes contra esta candidatura, é citada a de Carlos César, presidente do PS, que afirmou que “só numa situação limite votaria em Ana Gomes”.
No passado domingo, no seu espaço habitual de comentário televisivo na SIC Notícias, Ana Gomes tinha dito que estava quase a concluir a sua reflexão sobre o tema. “Estou no fim da minha reflexão, dentro de dias estarei em condições de anunciar”, sublinhou Ana Gomes ao ser questionada sobre uma candidatura às presidenciais.
“Estava a fazer essa reflexão em conjunto com o meu marido, quando ele adoeceu e faleceu. Eu tive de continuar a fazer essa reflexão noutras condições, sozinha. O que posso dizer é que estou a chegar ao fim e, em breve, comunicarei o resultado dessa minha reflexão”, continuou.
Ana Gomes sublinhou ainda que esta seria uma decisão “muito individual”, independentemente dos conselhos que decida ouvir.
“Obviamente que prezo muito várias pessoas que tenho vindo a ouvir, mas, em última análise, é uma decisão que se tem de tomar solitariamente”, sublinhou. E questionada sobre se a candidatura da bloquista Marisa Matias põe em causa a sua, a socialista e antiga eurodeputada garantiu que não: “De maneira nenhuma, acho que a Marisa Matias é uma excelente candidata”.
Foi a 17 de Maio, também no seu espaço de comentário na SIC, que Ana Gomes admitiu que poderia candidatar-se a Belém. E explicou porquê: Marcelo Rebelo de Sousa – disse – é um “candidato do regime” que vai “polarizar” a sociedade e vai “facilitar a vida dos extremos”.
“Eu não sou candidata e não tenho ambição de ser candidata, mas acho que o que se passou é tão grave, com tantas implicações para a democracia, que fico muito preocupada pelo meu partido e pela democracia. E acho que muitos portugueses do centro esquerda, da esquerda e da própria direita democrática estão preocupados”, disse Ana Gomes.
Referindo-se ao momento na fábrica da Auto Europa quando o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, lançou o actual Presidente da República para uma nova eleição, Ana Gomes classificou esse episódio como “absolutamente lamentável”. “É deprimente mesmo”, reiterou na altura.
“Nunca se viu o relançamento da candidatura de um Presidente da República ser anunciado numa fábrica de automóveis por alguém que não estava na qualidade de dirigente partidário mas na qualidade de primeiro-ministro e num contexto em que o Presidente da República tinha acabado de se ingerir de forma bastante criticável nos assuntos do governo”, afirmou a socialista.
A direcção do PS classificou as declarações de Ana Gomes sobre falta de democracia interna no partido como “inaceitáveis”.