O Arquivo Distrital de Braga (ADB) tem agora um espólio de interesse internacional sobre os primórdios da programação informática. O acervo contém cerca de 1500 documentos que descrevem o percurso de um dos grupos de trabalho mais respeitados na história do software, o WG2.1 – Algoritmi Languages e Calculi, da Federação Internacional para o Processamento de Informação (IFIP). O arquivo pode ser consultado todos os dias úteis, estando também a ser disponibilizado gradualmente no site do ADB. Há ainda uma exposição sobre o tema patente até sexta-feira no átrio daquela unidade cultural da UMinho.
O grupo WG2.1 revolucionou a ciência do software há mais de meio século quando começou a desenvolver linguagens e princípios científicos que ainda hoje norteiam a programação de computadores. Mais especificamente, contribuiu para a linguagem “Algol”, na década de 1960, considerada a primeira linguagem de programação aberta e moderna da história. Estas e outras contribuições foram reconhecidas com a atribuição do Prémio Turing (uma espécie de “Nobel da Informática”) a seis membros da equipa, incluindo Edsger Dijkstra, Antony Hoare, John McCarthy, Peter Naur, Robert Floyd e Niklaus Wirth.
Em Portugal, o ADB é o primeiro arquivo a albergar documentação do género. O espólio integra documentos que desvendam o início do software como disciplina científica, nomeadamente os originais policopiados de artigos de Floyd, Hoare e Wirth, que iniciaram o método de programação estruturada e que passou a ser ensinado na maioria das instituições de ensino de informática, usando a linguagem “Pascal”, sucessora da “Algol”.
“É inegável o papel que o software tem nos dias de hoje. Há software nos telemóveis, nas redes sociais, nas fábricas, nos automóveis e nos aviões, bem como nos serviços bancários, de saúde, da internet, da energia, etc. É com software que se programam os algoritmos de inteligência artificial que estão cada vez mais em uso nessas áreas de aplicação”, explica José Nuno Oliveira, actual membro do WG2.1 e investigador do Laboratório de Software Confiável (HASLab) da UMinho e do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC). “Daí ser crucial estudar o fenómeno, as suas origens e, em particular, a sua história, para conhecermos a sua evolução e compreendermos o seu impacto na sociedade”, continua.
O fundo documental foi apresentado publicamente a 20 de junho, por Pedro Henriques e José Nuno Oliveira, professores do Departamento de Informática da UMinho, Alexandra Vidal, responsável pela descrição arquivística, e António Sousa, director do ADB. O tratamento da documentação, em tão curto período de tempo, foi possível graças ao apoio da tecnológica Primavera BSS, cujo director-geral Jorge Batista também esteve presente no evento. A associação desta empresa e do INESC TEC, na valorização de um acervo da área técnica e científica em que desenvolvem actividade, tem uma importância especial quando se assinalam os 30 anos da colaboração entre o Departamento de Informática da UMinho e o ADB, que recebeu este espólio precisamente no ano em que completou o seu centenário.