Durante três dias, de 9 a 11 de maio, o concelho de Montalegre transformou-se na capital do património enogastronómico português, acolhendo a terceira edição do Encontro Enogastronómico Montalegre 2025. O evento é da organização da Associação Património Enogastronómico, Cultura e Tradição (PECT).
A sessão solene de abertura contou com Elsa Machado, presidente da PECT. «Começamos por chamar a atenção para o que realmente importa: o nosso património gastronómico não é apenas sobre comida, é sobre identidade, história e futuro», vincou.
Fátima Fernandes, presidente da Câmara Municipal de Montalegre, reforçou este sentimento. «Quando falamos de cultura, não nos referimos apenas a monumentos ou museus. Falamos dos saberes e sabores que herdamos das nossas cozinhas, das mesas partilhadas em família ou em comunidades».
Programação atrai multidões
O evento ofereceu uma programação variada que atraiu multidões. O espetáculo de abertura com Augusto Canário trouxe as “Cantigas do Caminho” ao palco principal.
A conferência magistral de Damiana Fernandes sobre “As Emoções e a Gastronomia” ocupou mais de 80% do auditório.
Os 63 stands de expositores apresentaram produtos regionais de excelência e as demonstrações culinárias com chefs como Nuno Diniz na prova sensorial de batatas e Luis Simões nas provas sensoriais de vinagre e vinho verde foram das atividades mais concorridas.
Mostra de Raças Autóctones é destaque
A grande novidade desta edição foi a Mostra de Raças Autóctones, que reuniu exemplares das 25 raças do norte de Portugal. O professor Jorge Azevedo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, explicou que «Portugal tem 65 raças autóctones, 25 só na região Norte».
«Cada uma é um milagre de adaptação genética. A vaca Cachena, a mais pequena da Europa, produz carne de excelência em terrenos onde outras raças nem sobreviveriam».
Entre as características mais relevantes destas raças destacam-se: a adaptação a temperaturas baixas, resistência natural a doenças específicas da região, valor genético inestimável para programas de melhoramento e a rusticidade e capacidade de sobrevivência em condições adversas.
Elsa Machado desvendou planos ambiciosos. «Temos como projeto futuro sedimentar esta mostra».
Paulo Ramalho, da CCDR-N, apontou que «os agricultores não são meros produtores de alimentos». «São guardiões que cuidam do território, preservam a biodiversidade e defendem o meio ambiente. Sem eles, não teríamos estas raças autóctones tão bem preservadas», vincou.
Jorge Azevedo lançou um alerta sério de que «se não houver criadores, não haverá animais» e «sem apoio económico e reconhecimento social, os criadores desaparecem». «Estamos a brincar com o fogo: perder estas raças seria como queimar uma biblioteca inteira de conhecimentos ancestrais», adverte.
Números de recorde
O balanço final, segundo o PECT, tem números de recorde. Foram três dias de programação com 63 stands ocupados, 25 raças autóctones apresentadas, 83 patrocinadores, 29 confrarias participantes.
O evento contou com a presença da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómica e da Fundação Luso Galaica.
Ao todo, foram registados mais de 1.500 visitantes.
A mostra recebeu, ainda, o Príncipe Alfredo da Casa Real do Havaí, sendo fundador e Presidente da Confraria da Raça Marinhoa.
«No Havaí, como aqui, aprendemos que preservar raças autóctones é garantir soberania alimentar. Montalegre está a escrever um manual de resistência rural que o mundo devia ler», comentou.
Conclusão com olhos no futuro
Na sessão de encerramento, Elsa Machado deixou um desejo. «Que esta celebração seja um marco de fortalecimento entre todos os atores da fileira agroalimentar. Mostrámos que tradição e inovação podem e devem caminhar juntas», vinca.
Fátima Fernandes terminou com um apelo. «Continuamos a batalhar para que o poder político olhe para os nossos territórios de baixa densidade com outro carinho», disse. «As gentes que aqui estão são gentes de trabalho que merecem ser valorizadas. Este evento provou que o interior não pede esmolas, pede oportunidades», terminou.




