O antigo dirigente do Bloco de Esquerda (BE), João Semedo, morreu esta terça-feira, depois de vários anos de luta contra o cancro. O antigo líder bloquista faleceu no Hospital do Porto aos 67 anos, depois de uma longa luta pela renovação do Partido Comunista Português (PCP) e pela mudança do cenário político português.
Estreou-se na política em 1972, com a adesão ao PCP. Descontente com o partido, funda, em 2003, o Movimento da Renovação Comunista, juntamente com outros ex-dirigentes do PCP. No ano seguinte, aceita o convite de Miguel Portas para integrar como independente as listas do BE para o Parlamento Europeu.
Entre 2012 e 2014, João Semedo dirigiu o BE em conjunto com a actual coordenadora, Catarina Martins. No ano passado, o antigo dirigente bloquista foi candidato do BE à Câmara Municipal do Porto. No entanto, acabaria por ser afastado da corrida devido a doença, tendo sido substituído por candidato João Teixeira Lopes.
João Semedo renunciou ao mandato de deputado em 2015, devido às complicações de um cancro nas cordas vocais.
Semedo estava afastado da vida política desde 2017, quando teve de ser substituído na candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal do Porto, por motivos de saúde.
“TIVE A VIDA QUE ESCOLHI”
O médico nasceu em 1951, em Lisboa. Frequentou o Liceu Camões, onde começou a despertar a sua acção política, participando nos movimentos estudantis após as cheias de 1967.
Concluiu a licenciatura, na Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1975. Durante o curso, aderiu ao Partido Comunista Português (PCP), foi eleito para a direcção da associação de estudantes, e, em 1973, chegou a ser preso pela PIDE, passando duas semanas em Caxias, depois de ter sido apanhado a distribuir panfletos exigindo eleições livres.
João Semedo esteve também envolvido nas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril, a intervenção na Cooperativa Árvore, na direcção do FITEI, na Universidade Popular e na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte.
“Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante. Segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser”, afirmou João Semedo na última grande entrevista que concedeu.
Nos anos 1990, voltou à actividade médica com passagem por um centro de abrigo para toxicodependentes e em Serviços de Atendimento Permanentes. Foi nomeado director do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, onde liderou o processo de remodelação do hospital especializado no tratamento de doenças respiratórias e infecciosas, com inovações no campo do tratamento da SIDA e das hepatites.
Nos últimos meses de vida, João Semedo publicou, com António Arnaut – que faleceu a 21 de Maio – um livro com a proposta para uma nova Lei de Bases da Saúde (‘Salvar o SNS’) e juntou-se ao movimento ‘Direito a morrer com dignidade’.