O Núcleo Antifascista de Braga marcou presença na manifestação que juntou em Lisboa cerca de 150 activistas “contra o fascismo e a xenofobia” este sábado, dia em que que no Padrão de Descobrimentos decorria um encontro de “nacionalistas e patriotas portugueses”.
Convocada pela Frente Unitária Antifascista (FUA), um colectivo fundado em Braga, esta 2.ª Mobilização Nacional Antifascista teve como objectivo recordar a petição contra a legalização de organizações “racistas e fascistas” em entregue em Dezembro de 2019 no Assembleia da República na sequencia da reunião, meses antes, de organizações de extrema-direita europeias, “algumas assumidamente de ideologia fascista e neonazi”.
Em declarações à agência Lusa, no Príncipe Real, onde os manifestantes, onde se incluíam activistas do Núcelo Antifascista de Braga, Vasco Santos, um dos coordenadores da FUA e militante do MAS, acusou os partidos com assento parlamentar de estarem “com a cabeça enterrada dentro da areia” face à “extrema-direita fascista” em Portugal.
Vasco Santos explicou que esta foi manifestação foi convocada também como resposta a “uma concentração de várias organizações fascistas” marcada para sábado junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa – à semelhança do que aconteceu no dia 10 de Agosto do ano passado, quando fizeram um protesto contra a “conferência nacionalista” que se realizou nessa data.
Dirigindo-se sobretudo aos partidos da esquerda, citando em particular PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista ‘Os Verdes’, o coordenador da FUA pediu-lhes que “comecem, de facto, a chamar a atenção para este problema”, adoptando “uma atitude mais firme”, e que “não deixem continuar a bola a rolar desta forma, porque, se não, vai correr bastante mal”.
“Estão a ignorar o perigo que existe até já com um partido de extrema-direita [no parlamento], no caso, o Chega, de André Ventura, o qual diz mesmo que se está nas tintas para a Constituição e que quer criar uma quarta República. Ou seja, dá todos os sinais que nos deviam servir de alarme”, considerou o ex-candidato às eleições europeias de 2019 pelo MAS.
Ao longo do percurso entre o Príncipe Real e o Cais do Sodré, os manifestantes gritaram palavras de ordem como ‘A nossa luta é todo o dia contra o fascismo e a xenofobia’ e ‘25 de Abril, sempre, fascismo nunca mais’.
A meio do trajecto, entre o Bairro Alto e o Chiado, fizeram um minuto de silêncio em memória de Alcindo Monteiro, cidadão português nascido em Cabo Verde que morreu em 1995, após ter sido espancado por neonazis, ali perto, no dia 10 de Junho.
Já no Cais do Sodré, houve alguns discursos, incluindo da dirigente do Livre Isabel Mendes Lopes, que declarou que o seu partido não podia deixar de estar presente nesta manifestação.
“O fascismo está a ressurgir por todo o mundo. Já não são só sementes, já temos mesmo ervas a crescer por todo o mundo, e não pode ser, temos de cortar o mal pela raiz. E como é que fazemos isso? Assim, dizendo que nas ruas não queremos fascismo”, defendeu.
No Cais do Sodré, a manifestação cruzou-se com membro de grupos de extrema direita, mas foram dadas indicações para que fosse evitado confrontos.
PETIÇÃO
Dirigida ao Presidente da República, presidente do tribunal de Constitucional, ministra da Justiça e grupos parlamentares, a petição ‘Contra conferências neonazis em Portugal e pela ilegalização efectiva de grupos de cariz fascista/racista/neonazis’’ conta com mais 9.500 subscritores.
A petição surge a após ter sido detectada “a presença e actuação de grupos terroristas e neonazis como a Blood and Honour, Hammerskin ou ainda a Nova Ordem Social”, movimentos que “ já foram assinalados pela Europol e o SIS”.
“ Não podemos nem iremos aceitar a normalização deste discurso de ódio e dos ataques dos quais estes grupos são autores, permitindo a sua livre actuação e comprometendo assim a segurança dos nossos filhos e filhas, dos nossos amigos e amigas”, lê-se no documento.
A FUA acrescenta que “só este ano estes grupos foram responsáveis de uma tentativa de homicídio, de várias agressões e de ameaças a activistas e a jornalistas”.
“Não podemos esquecer o tipo de publicações feitas por estes grupos nas redes sociais, tal como a Nova Ordem Social que usa a rede VK para poder publicar livremente conteúdo supremacista e incitar ao ódio”, para exigir uma “posição clara dos partidos parlamentares sobre este tipo de acontecimentos e sobre o crescimento da extrema-direita em Portugal”.
É ainda exigido a ilegalização da Nova Ordem Social em Portugal e abertura de um inquérito sobre as acções da organização, do seu líder Mário Machado e dos seus militantes e a abertura de um inquérito sobre as actividades de grupos como a Blood And Honour, Hammerskin, Escudo Identitário, Nova Legião Portuguesa, Movimento Armilar e a Misanthropic Division em Portugal, e sobre “as ligações destes grupos com organizações paramilitares estrangeiras”.
Foto Tiago Petinga