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Os abraços e os afectos que faltam a quem vive num lar

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Quando a porta da sala de visitas se abre, já “Maria” está sentada, num dos extremos da sala, à espera que o filho cumpra as formalidades a que está obrigado para poder sair da chuva que insiste em cair e entrar naquele espaço que a instituição preparou para receber as visitas.

Precisa de medir a temperatura e desinfectar as mãos, antes de poder tomar o seu lugar, numa cadeira preta, situada frente a frente com a da mãe, mas com uma mesa de madeira e um acrílico a dividir.

Este é um momento de ansiedade e de felicidade, que nem a máscara consegue esconder. Mesmo que não se veja, percebe-se que se abriu um sorriso, largo, genuíno, próprio de quem tem enfim a primeira visita da semana. Pode parecer pouco, mas que representa muito para os idosos que vivem os seus dias em lares.

Nos outros, os telefones ajudam a combater a distância física, num tempo em que impera a privação de afectos, de abraços e de beijos – uma coisa tão contranatura e que se tornou quase natural.

«O impacto da pandemia nos nossos idosos está ainda longe de poder ser avaliado, mas são já evidentes as consequências da privação dos afectos, dos isolamentos a que estiveram sujeitos e também das condições pouco calorosas que tiveram que ser impostas», refere a directora técnica do lar da Santa Casa da Misericórdia de Amares, Magali Alves, em declarações ao jornal “O Amarense”.

Responsável por 45 utentes, defende que as principais consequências «prendem-se maioritariamente com agravamentos da saúde mental e no grau de dependência» de quem está institucionalizado, algo para que vários especialistas têm alertado. «Se conseguíssemos medir a felicidade dos nossos idosos, provavelmente os valores seriam extremamente baixos», admite.

A experiência de Sameiro Tinoco, directora técnica do Centro Social de Dornelas, mostra que foram sobretudo «os idosos habituados a sair, com autonomia e livre-trânsito» que mais sentiram o facto de já não o poderem fazer e de estarem sujeitos a um apertado conjunto de restrições, que os obriga a permanecerem sete dias por semana, 24 horas por dia, fechados nas instituições que os acolhem.

«Sentem muito o facto de não poderem ir a casa com os seus familiares, pois aos fins-de-semana era habitual fazerem-no, mesmo idosos com algum grau de dependência. Além disso, faltam aqueles “miminhos” que recebiam nas visitas, uns docinhos ou bens alimentares específicos que pediam para “matar desejos” e que deixaram de ser permitidos devido às restrições impostas», afirma.

A pandemia obrigou a mudar tudo e, de um momento para outro, o lema “por amor me afasto” generalizou-se, embora em muitos casos essa percepção fosse difícil de ser entendida.

«Por mais explicações que possamos ter dado, o sentimento de abandono e saudade apoderou-se da maior parte dos nossos idosos. Todos sabemos que as relações familiares têm uma enorme importância, principalmente na nossa cultura. Os nossos idosos fazem parte de uma geração que sempre lutou pela liberdade e de um dia para o outro ficaram fechados, vendo tudo a acontecer pelas janelas da sala ou do quarto onde passaram este último ano», sublinha Magali Alves.

A reportagem completa pode ser lida na edição em papel, nas bancas.

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