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Papa Leão XIV acusado de esconder alegados casos de abusos sexuais nos EUA e no Peru

O Papa Leão XIV está a enfrentar críticas crescentes por parte de organizações de defesa das vítimas de abuso sexual na Igreja Católica, que o acusam de ter encoberto casos nos Estados Unidos e no Peru durante o tempo em que exercia cargos de liderança eclesiástica antes da sua eleição como sumo pontífice.  O Vaticano já reagiu às críticas.

Embora não seja acusado de abusos, é apontado como responsável por falhas graves na forma como respondeu às denúncias.

As acusações foram avançadas por grupos como o BishopAccountability.org, que responsabiliza diretamente o Papa Leão XIV — anteriormente conhecido como cardeal Robert Prevost — por manter práticas de secretismo e falta de transparência relativamente a casos de abuso sexual clerical, particularmente durante o seu tempo à frente da Ordem de Santo Agostinho em Chicago e como bispo na cidade peruana de Chiclayo.

“Alguns podem aconselhar dar ao novo pontífice o benefício da dúvida. Nós discordamos. É responsabilidade do Papa Leão XIV ganhar a confiança das vítimas e das famílias”, afirmou Anne Barrett Doyle, representante do BishopAccountability.org, num comunicado citado pela agência Associated Press (AP).

O CASO DE CHICAGO

Uma das situações mais delicadas diz respeito a um caso ocorrido em Chicago. Em março deste ano, a Rede de Sobreviventes de Abusos por Padres (SNAP, na sigla em inglês) apresentou uma queixa formal ao Secretário de Estado do Vaticano contra Robert Prevost, acusando-o de abuso de poder eclesiástico.

O caso remonta à década de 1990. O padre James Ray, da arquidiocese de Chicago, foi colocado em ministério restrito em 1990 devido a suspeitas de abuso sexual. Apesar disso, entre 2000 e 2002, Ray — que não era membro da Ordem de Santo Agostinho — foi autorizado a viver num convento da ordem na cidade, numa altura em que Prevost exercia funções de liderança regional.

Segundo a queixa, Prevost terá sabido deste arranjo, mas não terá informado a escola vizinha sobre a presença do sacerdote acusado de abuso. “O Cardeal Prevost colocou em perigo a segurança das crianças”, lê-se na denúncia. Ray viria a deixar o convento em 2002 e acabaria por abandonar o sacerdócio nesse mesmo ano, coincidindo com a nomeação de Prevost como superior geral dos agostinianos.

As críticas não se ficam pelos Estados Unidos. Outro caso refere-se ao período em que Leão XIV foi bispo da diocese de Chiclayo, no norte do Peru. Em 2022, três mulheres apresentaram acusações de abuso sexual contra dois padres locais, alegando que os abusos ocorreram em 2007, quando eram ainda menores de idade.

Embora a diocese tenha remetido o caso ao Vaticano, este foi arquivado sem que se chegasse a qualquer conclusão formal. Um dos padres foi supostamente suspenso, mas fotografias publicadas posteriormente mostram-no a celebrar missa em público. O outro sacerdote foi, segundo a diocese, afastado da vida sacerdotal devido à idade avançada e a problemas de saúde.

As organizações de vítimas denunciam que Prevost não cumpriu devidamente os seus deveres enquanto bispo, argumentando que falhou ao não entrevistar as vítimas nem fornecer informações detalhadas aos investigadores do Vaticano. Além disso, alegam que os casos não foram comunicados às autoridades civis.

VATICANO RESPONDE

Perante as críticas, fontes do Vaticano saíram em defesa de Leão XIV, sublinhando que, enquanto bispo de Chiclayo, o agora Papa agiu de forma apropriada ao impor restrições preliminares a um dos sacerdotes envolvidos, enquanto decorriam investigações conduzidas pelas autoridades civis.

Apesar das acusações, Leão XIV conta com o apoio de algumas vítimas de abuso no Peru, nomeadamente ligadas a um movimento católico que foi desmantelado pelo Papa Francisco. Pedro Salinas, jornalista e sobrevivente de abusos, que participou na fundação do grupo Ending Clergy Abuse, reconhece a postura solidária do atual pontífice: “[Prevost] ficou do nosso lado quando outros não o fizeram. Por isso é que a sua eleição importa.”

Ainda assim, as críticas persistem, sobretudo no que diz respeito à ausência de medidas claras de responsabilização de membros do clero implicados em casos de encobrimento. O grupo BishopAccountability.org sublinha que, durante o mandato de Prevost em posições de liderança, “nenhum bispo cúmplice foi destituído do título”, criticando o que consideram ser a manutenção de uma cultura de secretismo na disciplina interna da Igreja.

À medida que Leão XIV inicia o seu pontificado, os olhos mantêm-se atentos à forma como o novo Papa lidará com as exigências de transparência e justiça relativamente à crise dos abusos sexuais na Igreja Católica — uma questão que tem marcado profundamente a instituição ao longo das últimas décadas.

Com Executive Digest

Foto Alessandro Di Meo/EPA

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