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Portugueses gastam mais de 21 milhões de euros em medicamentos novos para obesidade em quatro meses

Este ano ainda vai, apenas, no quarto mês, mas os portugueses já gastaram mais de 21 milhões de euros na compra de dois novos medicamentos contra a obesidade. São eles tirzepatida (Mounjaro) e o semaglutido (Wegovy).

O valor, avançado pelo jornal Público, baseado em dados do Infarmed, é superior ao total gasto em 2023 com os três medicamentos anteriormente disponíveis para o mesmo.

O Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, chegou a Portugal a 1 de novembro de 2024 e é o único medicamento contra a obesidade que também é aprovado para diabéticos. Nos primeiros dois meses, foram vendidas 10.680 unidades, resultando em 2,6 milhões de euros. Já entre janeiro e abril de 2025, a despesa alcançou quase 20 milhões de euros, com 81.226 unidades vendidas. Uma dose mensal de manutenção ascende até aos 337 euros.

O Wegovy, da mesma substância ativa do Ozempic (semaglutido), só que em doses superiores, foi lançado em 7 de abril de 2025. Nesse mês, foram adquiridas mais de 6.800 unidades, sendo quase 1,2 milhões de euros em despesas. O custo de uma caneta injetável de 2,4 mg ronda os 244,80 euros.

José Silva Nunes, endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), diz que estes números são «expressivos, mas não surpreendentes». O especialista aponta que esta «nova geração de fármacos», com uma potência superior aos anteriores, permite perdas de peso em «dezenas de quilos», gerando «corrida às farmácias».

Com mais de 2,3 milhões de adultos com obesidade em Portugal, discute-se a comparticipação destes medicamentos. Silva Nunes defende a definição de critérios rigorosos de elegibilidade e recorda o compromisso da secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, para um estudo de impacto económico até ao final do ano. O endocrinologista afirma, ainda, que a obesidade é uma doença crónica e que «não é uma questão de força de vontade».

Já Carlos Oliveira, presidente da Adexo (Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal) defende a comparticipação, afirmando que vai pressionar o novo Governo da Aliança Democrática a cumprir a promessa. Para o mesmo, «os números das vendas mostram que há muita gente a precisar de ajuda», embora reconheça que parte da procura refere-se a «tendências ou modas». Segundo o mesmo, a eficácia dos agonistas dos recetores GLP-1 é inquestionável, ao contrário de medicamentos anteriores. Como presidente da Fendoc (Federação Nacional das Associações de Doenças Crónicas), Carlos Oliveira refere que os custos da obesidade em 2021 foram estimados em 1,2 mil milhões de euros, e que investir no tratamento pode gerar poupanças futuras nos cuidados de saúde.

No entanto, a sustentabilidade financeira do sistema público de saúde preocupa especialistas como Alejandro Santos, professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Como exemplo, estima que tratar 100 mil doentes com tirzepatida, à dose de manutenção, implicaria uma despesa anual de 1755 milhões de euros. «Temos economia para pagar isto?», questiona. Defende, por outro lado, a prevenção, com mudanças nos estilos de vida e educação alimentar desde a infância, continua a ser a melhor resposta.

Carla Pedrosa, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, reconhecendo o impacto das novas terapêuticas, enfatiza a necessidade de reforçar os recursos humanos no SNS, garantindo que os doentes tenham acesso a consultas multidisciplinares. Para a mesma, a comparticipação «terá que ser muito bem pensada» para justificar o custo-benefício clínico.

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Com Executive Digest

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