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OPINIÃO -
As relações afetivas

Por Hélder Araújo Neto
Psicólogo Clínico

Porque é que as relações afetivas são tão difíceis? Vou tentar responder a esta questão de uma forma sucinta, uma vez que este tema daria (deu) para escrever vários livros, e só tenho este parco espaço de uma página. A minha intenção, portanto, é a de trazer à luz algumas das razões que causam essa dificuldade e acender no leitor a curiosidade para, eventualmente, pesquisar e saber mais sobre o assunto.

Uma das causas da dificuldade das relações é o estilo de vinculação, a forma como as pessoas se ligam, afetivamente, umas às outras. Existem quatro estilos diferentes, e algumas vezes estilos diferentes, quando em relação, causam uma mistura explosiva, que praticamente condenam as relações ao fracasso. Escrevi neste espaço acerca deste assunto (junho de 2023), por isso não me alongarei mais no âmbito da temática.

Por que não me amam da forma que eu quero? Esta pode ser outra das causas da dificuldade dos relacionamentos. É possível que nos sintamos tristes, e frustrados, quando os nossos parceiros não conseguem demonstrar o seu amor da forma que nós queremos. Mas a verdadeira intimidade requer a rendição à forma como o nosso parceiro nos ama.

Quando insistimos em que os nossos parceiros mostrem o seu amor da forma que desejamos, podemos estar a perder a oportunidade de ter uma relação autêntica e significativa. A forma como uma pessoa ama pode ser a expressão mais íntima de quem ela é, conquanto, quando isso não é acolhido, pode ser sentido como uma rejeição profunda. Qualquer pessoa pode enviar-nos flores, um poema, ou fazer-nos um elogio sem nos amar. No amor, é a intenção por detrás do ato que importa. E perceber essa intenção no nosso parceiro é fundamental.

A rendição à forma como o nosso parceiro ama não nos diminui, não abandonamos a nossa própria perspetiva. O amor é cumulativo, acrescenta, experimentamos o crescimento ao perceber, melhor, o nosso sentido do que significa ser amado.

O que nos leva a escolher pessoas difíceis para amar? Em teoria, somos livres para escolher o tipo de pessoa que amamos, mas, na realidade, a nossa escolha é muito menos livre do que imaginamos. Tendemos a procurar na vida adulta parceiros que nos proporcionam um sentimento familiar.

Procuramos pessoas que, de muitas maneiras, recriam os sentimentos de amor de quando éramos pequenos. O problema é que os modelos de amor que apreendemos na infância podem não ter sido os mais saudáveis. Por exemplo, uma mulher que foi vítima de um pai violento pode considerar alguém como pouco atraente, ou aborrecido, quando, na verdade, subconscientemente, o que quer dizer é que é improvável que a faça sofrer de modo a que sinta que esse amor é real. Ou então, um homem, superprotegido na infância, pela mãe, irá procurar na companheira uma “mãezinha”, porque isso lhe é familiar.

Não podemos mudar os nossos modelos de atração, mas podemos mudar de um padrão de resposta infantil para um mais adulto. O autoconhecimento e a comunicação são muito importantes. Espero ter conseguido contribuir para o esclarecimento acerca desta temática.