Artigo de Jorge Oliveira
Chave na ignição, cinto de segurança e pé no acelerador. A melhor forma de conhecer alguém é durante a condução.
No automóvel retiramos as máscaras e a verdadeira personalidade revela-se. Quem nunca assistiu um automobilista a cantar a plenos pulmões dentro do seu carro ou mesmo a tirar “macacos” do nariz? O automobilista comporta-se como se ninguém o observasse ou reconhecesse.
Não retiro qualquer prazer nem da condução nem da posse do automóvel e associo-o, talvez erradamente, à soberba humana, e admito a existência de um viés de confirmação.
O cidadão responsável fará uma condução atenta, prudente, dentro dos limites de velocidade e sem manobras perigosas. Inversamente, o cidadão imprudente ignorará os peões, limites de velocidade, linhas contínuas e restantes automobilistas. Este comportamento não depende do automóvel, apenas do condutor.
De acordo com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) até 21 de dezembro de 2019 morreram, no distrito de Braga, devido a acidentes rodoviários, 36 cidadãos. Em Portugal foram 462. Estes números são ainda mais trágicos se considerarmos que, em 2016, no distrito de Braga, morreram 28 e, em Portugal, 430. Este indicador da sinistralidade rodoviária claramente piorou.
São 17 e 19 os quilómetros que separam a cidade de Braga de Vila Verde e Amares, respetivamente. Os trágicos números que a ANSR nos apresenta tornam-se ainda mais reveladores se imaginarmos uma cruz, por cada vítima, ao longo das estradas nacionais que ligam os concelhos. A cada 500 metros uma cruz seria colocada para lembrar os mortos e suas famílias.
Há uma desresponsabilização generalizada do automobilista perante este cenário nas estradas nacionais. Não é o automobilista que conduz em excesso de velocidade, com excesso de álcool ou drogas, a enviar mensagens ou a falar ao telemóvel e nunca é o automobilista que recorre a manobras perigosas. É sempre o veículo que se despista, o piso que não está nas melhores condições ou ainda, as condições meteorológicas que provocaram o acidente.
É óbvio que as nossas estradas necessitam de uma melhor manutenção e que o crescimento e execução de muitas delas foram tudo menos adequadamente planeados, mas não tenhamos dúvidas de que a quase totalidade dos acidentes mortais nas estradas se devem aos automobilistas. Aqui, a vítima é, muitas vezes, o culpado.
Está nas nossas mãos corrigir urgentemente os comportamentos que causaram, em 2019, 462 mortos. Desejo-vos a todos uma estrada segura em 2020.