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OPINIÃO

OPINIÃO -
A vinculação

Hélder Araújo Neto

Psicólogo

 

“Porque é que eu sou assim?”

Esta é uma das perguntas que mais me fazem nas consultas. Com este artigo, cujo tema é a vinculação, almejo responder a esta questão ou, pelo menos, a uma parte, porque a pergunta é feita, quase sempre, no contexto das relações.

Todas as teorias da vinculação, ou as mais comummente aceites, dizem que as relações íntimas, na idade adulta, partilham características das relações de vinculação na infância.

A vinculação pode definir-se como a relação, afetiva e cognitiva, que o bebé estabelece com as figuras cuidadoras primárias, permanecendo através do tempo, pois a relação precoce com a figura de vinculação (quase sempre a mãe) é o seu primeiro relacionamento afetivo. Em face deste facto, torna-se definidor de uma espécie de protótipo das relações futuras e, tal como acontece na infância, entre a criança e a figura de vinculação, é igualmente esperado que uma relação amorosa necessite de tempo. Neste sentido, o processo de constituição de uma relação de vinculação, com o parceiro, tende a demorar cerca de dois anos.

Existem quatro estilos de relacionamento amoroso, baseados nos padrões de vinculação, e, com certeza, o caro leitor identificará o seu tipo mais dominante, podendo, desta forma, retirar as ilações que considerar necessárias.

A saber: seguro, inseguro-ambivalente/ansioso, inseguro-evitante e desorganizado.

Indivíduos com um padrão seguro são caracterizados pela valorização das relações íntimas, pela capacidade de manter intimidade sem perda da autonomia pessoal, no qual o amor e a confiança surgem facilmente.

No caso do estilo inseguro ambivalente/ansioso, o indivíduo deseja e procura intimidade, ainda que possam surgir preocupações obsessivas, relativamente à perceção de perda e abandono, contrabalançado com o desejo de posse e fusão com o outro. Caracteriza-se também por um grande envolvimento nas relações íntimas, pela tendência a idealizar o outro, e pela elevada dependência do bem-estar pessoal em função de ser aceite pelo parceiro.

Os indivíduos classificados no padrão inseguro-evitante são caracterizados pela desvalorização dos relacionamentos íntimos, e pela atribuição da ênfase na independência e na autodeterminação. Existe um evitamento das relações íntimas devido ao medo de serem rejeitados, coexistindo um sentimento de insegurança pessoal e desconfiança dos outros.

Por fim, o estilo de vinculação desorganizado tem como principais características a perceção de que o outro tanto pode mostrar-se ameaçador, como frágil, sendo incapaz de providenciar segurança. Predomina um sentimento de desamparo e medo face aos outros.

Convido o leitor a fazer o exercício de imaginar as consequências, quando pessoas com os diversos estilos se relacionam. A boa notícia é que é possível alterar o estilo de vinculação através de um processo terapêutico ou, então, após desenvolver uma relação íntima e autêntica que invalide as expectativas anteriores.

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