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OPINIÃO

OPINIÃO -
A Música

Artigo de Hélder Araújo Neto, Psicólogo Clínico

O tema deste artigo é a música. Embora possa parecer que é uma temática diferente daquelas que tenho escrito, que costumam versar sobre assuntos relacionados com a psicologia, não o é, porque a música está intimamente relacionada com construtos psicológicos como a vinculação, a inteligência, as emoções e até a memória. Elencarei aqui algumas dessas relações.

Não sabemos ao certo como a música apareceu na vida do ser humano, mas tudo aponta para que tenha surgido com a necessidade de comunicação entre a mãe e o filho; o tom maternal, esse som melodioso, foi utilizado para acalmar o bebé. Essa tonalidade, essa musicalidade que as mães utilizam fica registada no cérebro do bebé, desenvolvendo este a capacidade de responder à melodia – mesmo antes de conseguir comunicar por palavras. Assim, quando crescemos, sempre que ouvimos uma melodia, várias áreas do cérebro são ativadas. São estes processos que nos permitem criar vínculos sociais, primeiro com os nossos pais e, depois, com os membros do nosso grupo.

Na teoria das inteligências múltiplas, Gardner postulou que uma delas é a inteligência musical. Esta inteligência pode ser definida como a capacidade relacionada com a captação, assimilação, discriminação, transformação e expressão de formas relacionadas com a música, existindo sensibilidade, tanto pelo ritmo, como pelo tom e timbre, e compreendendo as habilidades para cantar, ouvir música, tocar instrumentos, analisar sons e criar música em geral.

A relação da música com as emoções é tão óbvia, tão do senso comum, que todos nós percebemos essas relações e o que elas nos fazem sentir. Opto, neste parágrafo, por descrever a ligação música/emoções de uma forma mais científica, esperando não parecer pedante ou pretensioso. O que quero explanar, de forma simples, é que a música é uma extraordinária indutora de emoções. Existe uma miríade de estudos, com excertos musicais indutores de emoções, tantos que foram catalogadas as músicas mais indicadas para induzir, especificamente, cada uma das emoções. Para completar este parágrafo, descreverei quais as músicas que desencadeiam cada emoção: para a tristeza, a música mais indicada/estudada/validada é o “Adágio para órgão e cordas em G menor” de Albinoni; para o medo será a “Threnody for the Victims of Hiroshima” de Penderecki; para a raiva, a obra de Holst: “Marte, o mensageiro da guerra”; e, para induzir a alegria, a melhor peça seria a “Serenata em G. k-525 Eine Kleine Nachtmusik” de Mozart.

A música tem a capacidade de criar e recuperar memórias. Por exemplo, na minha tese de mestrado utilizei excertos de músicas para eliciar memórias autobiográficas nos participantes do meu estudo. Outra prova desta capacidade da música é que se tornou numa ferramenta terapêutica utilizada em diversas situações, sendo uma delas com doentes com “Alzheimer”, que parecem reagir quando ouvem determinadas músicas, associadas a uma determinada memória, podendo assim evocar episódios agradáveis.

Para concluir, quero relembrar os benefícios da música. Ela tem a capacidade para aumentar a plasticidade cerebral, incrementar a capacidade de memória, medrar a criatividade. A música pode servir também para melhorar a qualidade do sono, para a redução do “stress” e da ansiedade. Por estas, e muitas outras razões, caro leitor, oiça música, pela sua saúde.

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