Por Hélder Araújo Neto
(Psicólogo)
A experiência do luto faz parte da condição humana. Todos nós, em algum momento das nossas vidas, deparámo-nos com a perda de alguém ou algo que valorizamos profundamente. O luto é uma jornada emocional complexa, que envolve uma série de estágios e desafios, mas também pode ser um processo de crescimento pessoal e de transformação. Neste artigo, exploraremos o luto, nas suas várias dimensões, discutindo as suas fases, o seu impacto na saúde mental, e as estratégias para enfrentá-lo.
O luto é uma resposta natural à perda. Pode manifestar-se de várias formas, desde a tristeza intensa até sentimentos de raiva, culpa, confusão e, até mesmo, alívio. A experiência do luto é idiossincrática, altamente individual, variando de pessoa para pessoa, e não há um “caminho certo” para vivenciá-lo.
É comummente aceite que existem cinco estágios principais do luto: negação, raiva, desespero/negociação, depressão e aceitação. Embora esses estágios sejam frequentemente citados, é importante notar que o luto não é um processo linear. As pessoas podem experimentar essas fases em diferentes ordens e voltar a estágios anteriores antes de seguir em frente.
Negação: no início, muitas pessoas têm dificuldade em acreditar que a perda ocorreu. Pode ser difícil aceitar a realidade da situação.
Raiva: à medida que a realidade se impõe, a raiva é uma reação comum. As pessoas questionam-se, frequentemente, porque é que isso aconteceu, ou sentem raiva da injustiça da perda.
Desespero/negociação: algumas pessoas fazem promessas ou tentam negociar com uma força superior, num esforço para recuperar o que foi perdido. Predispõem-se a fazer tudo o que for preciso para que tudo volte a ser como antes.
Depressão: à medida que a negação, a raiva e o desespero diminuem, a tristeza profunda pode instalar-se. É neste momento que a pessoa começa a enfrentar a realidade da perda.
Aceitação: finalmente, a pessoa começa a aceitar a perda e a encontrar formas de seguir em frente com a vida, embora a dor possa persistir. Reorganiza o que foi desleixado, reorganiza o eventual caos.
Assim, o luto pode ter um impacto significativo na saúde mental. Muitas vezes, as pessoas experimentam sintomas de depressão, ansiedade e até mesmo transtorno de “stress” pós-traumático (PSPT). É importante procurar apoio e ajuda profissional quando o luto se torna patológico, avassalador, e interfere na capacidade de funcionar no dia a dia.
Embora o luto seja um processo doloroso, muitas pessoas relatam que também pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal. Passar por uma experiência de perda pode levar a uma maior apreciação da vida, ao aumento da resiliência emocional e a uma perspetiva mais profunda sobre o significado da existência. Algumas pessoas envolvem-se em atividades, como grupos de apoio ou em expressões criativas, para ajudar na recuperação e no crescimento. O mais importante é lembrar que o luto é uma parte normal da vida e que, com o tempo e o apoio adequado, é possível encontrar o caminho para a aceitação e a cura.