Está a nascer uma start-up de consultoria ambiental para avaliar a pegada de água (quantidade e qualidade) das empresas e sugerir medidas de mitigação através de créditos de água, como plantar árvores junto a cursos de água ou patrocinar a gestão da floresta. O projeto chama-se “Trees4Water” e é de Cláudia Carvalho-Santos, investigadora do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho.
A ideia de negócio venceu recentemente o concurso nacional “H2O & Sustainability Innovation Hub”, na categoria “PhD & Researchers”, que foi organizado pela consultora PremiValor em Faro e que atribuiu 7000 euros para apoiar na mentoria e criação daquela start-up.
“Estou contente com a distinção, porque este trabalho valoriza a nossa sustentabilidade e porque acredito que os impactos dos projetos de investigação devem chegar à sociedade”, resume Cláudia Carvalho-Santos.
A cientista usa algoritmos para combinar modelos hidrológicos e imagens de satélite, calculando assim a pegada hídrica das empresas em termos de quantidade e qualidade. Caso essa pegada seja considerável, as empresas podem mitigá-la através de créditos de água, contabilizados com a plantação de floresta ou o apoio à sua gestão.
Os agentes fornecedores destes créditos, como proprietários agroflorestais públicos e privados, colocarão os seus créditos disponíveis numa plataforma e a “Trees4Water” irá mediar um esquema de incentivos e pagamentos, explica a investigadora.
O conceito do mercado da agua é baseado no mercado de carbono, que neste caso incentiva à redução das emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, o Governo aprovou em novembro a criação de um mercado voluntário de carbono em Portugal, tendo empresas da fileira do cimento e da cortiça entre os interessados em investir em troca de créditos de carbono
“Trees4Water” nasceu do projeto de investigação homónimo, que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia entre fevereiro de 2023 e julho de 2024, tendo parceiros como a Águas do Norte ou a Universidade de Kiel (Alemanha) e consultores de Espanha e dos Países Baixos.
A start-up está a nascer, na fase de procura de investidores e concursos de aceleração. Pretende contemplar de início diversas empresas das regiões do Minho e Douro Litoral, avançando depois para o resto do país e captando recursos humanos qualificados em Ciências do Ambiente e Economia Ambiental.
“No futuro, podemos evoluir para um mercado de benefícios múltiplos que as florestas prestam e que não estão atualmente a ser contabilizados”, realça Cláudia Carvalho-Santos.
Cláudia Carvalho-Santos é natural de Vila do Conde e vive na Maia. Fez a licenciatura em Geografia, o mestrado em Ecologia e Ambiente e o doutoramento em Biodiversidade pela Universidade do Porto, além de períodos de pesquisa científica nas universidades de Wageningen (Países Baixos), Aveiro e Porto.
É desde 2018 investigadora do CBMA e Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-sustentabilidade (IB-S) da UMinho, estando associada a diversos projetos e publicações científicas sobre recursos hídricos, modelação hidrológica, alterações climáticas e incêndios. É também membro da rede europeia Ecosystem Services Partnership.