A coreógrafa portuguesa Olga Roriz apresenta esta sexta-feira à noite (21h30), no Theatro Circo, em Braga, “A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros”, na qual um grupo de participantes locais vai juntar-se ao elenco do espetáculo, com o objetivo de imaginar uma qualquer praça da nossa cidade, do nosso mundo, habitada por movimentos de todos nós.
Esta é uma peça escrita em 1992 pelo Nobel da Literatura Peter Handke, originalmente composta por um elenco de 450 personagens que caminham numa praça, num movimento contínuo de rotinas citadinas.
O escritor austríaco inspirou-se nas suas deslocações diárias, mais concretamente numa praça em Muggia (Itália), onde, sentado na esplanada de um café, passou o dia a observar. Foi engolido pelos mais pequenos movimentos e deslocações de pessoas que, para si, naquele local, pareceram transparecer um mundo de significados.
“O detonador da peça foi uma tarde de vários anos atrás. Tinha passado o dia inteiro numa pequena praça em Muggia, perto de Trieste. Sentei-me no terraço de um café, e vi a vida a passar. Cada pequena coisa tornou-se significativa (sem ser simbólica). Os procedimentos mais minúsculos pareciam significativos do mundo”, escreveu Peter Handke, em 1992.
Para Olga Roriz, mais de 30 anos depois da criação desta peça, o mais importante é questionar o que mudou no mundo e colocar a obra nos nossos dias, partindo da constatação de que “o que sabemos uns dos outros e de nós próprios é um poço cada vez mais escuro, e é urgente abrir canais à transformação, à criação da utopia”.
Fotos: Jorge Gomes