Por Hélder Araújo Neto
Psicólogo Clínico
Não, não vou falar de política, nem de negócios, como o título deste artigo poderia indiciar. Versarei, isso sim, sobre os esquemas psicológicos.
Os esquemas psicológicos referem-se a estruturas cognitivas que organizam e interpretam informações. São construídos, essencialmente, a partir das nossas memórias, e experiências únicas, representando uma espécie de filtro através do qual percebemos novas situações. Esses esquemas moldam a maneira como interpretamos o mundo ao nosso redor, assim como o nosso mundo interior, podendo influenciar a nossa autoimagem, os relacionamentos, as decisões e as nossas interações diárias. Os esquemas psicológicos passam, assim, a ser a nossa verdade.
Estas estruturas mentais podem levar-nos a excluir informações pertinentes para nos focarmos apenas nas coisas que confirmam as nossas crenças e ideias pré-existentes. Os esquemas podem contribuir para os estereótipos e dificultar a retenção de novas informações que não estejam em conformidade com as nossas ideias pré-estabelecidas sobre o mundo. O preconceito é um exemplo de esquema que impede as pessoas de olharem o mundo como ele é, inibindo-as de receberem novas informações. Para exemplo, ao manter certas crenças sobre um determinado grupo de pessoas, o esquema existente pode fazer com que os indivíduos interpretem incorretamente as situações, tratando-as desta forma.
O objetivo deste artigo assenta, sobretudo, nos esquemas que criamos relativamente à forma como nos olhamos no mundo, sobre as crenças que alimentamos acerca de quem somos, que instigam à projeção de perguntas tão simples, tantas vezes feitas em contexto de terapia, tais como: “Porque é que eu sou assim? Porque é que eu sou como sou?”.
Os esquemas são, notavelmente, difíceis de mudar. As pessoas acreditam tanto nos seus esquemas existentes que, mesmo perante informações contraditórias, os mantêm. Ao aprenderem novas informações, que não se encaixam nos esquemas existentes, as pessoas tendem a distorcer, ou alterar, as novas informações, visando ajustá-las ao que já sabem. Quando ocorre um evento que desafia essas crenças existentes, as pessoas podem apresentar explicações alternativas que sustentam e apoiam o seu esquema psicológico, em lugar de adaptarem ou mudarem as crenças.
Assim, como exemplo, uma pessoa que tenha sido vítima de “bullying” aos 12 anos começa a desenvolver uma crença, um esquema, acerca de si mesma, dizendo-lhe que não tem valor, a forma como o ambiente e o mundo a trata. Neste contexto, o esquema conduz à crença que lhe transmite ser menos do que os outros, originando o estabelecimento perdurante de reduzidas autoestimas e autoconceitos, no tempo. Se a mesma pessoa, aos 34 anos, consegue alcançar uma qualquer vitória, passará a afirmar que “foi pura sorte”, mas, se se deparar com um qualquer fracasso, encaixá-lo-á no respetivo esquema e dirá algo como: “pois é, não sirvo para nada”. Assim, este individuo de 34 anos “transporta”, de uma forma descontextualizada, o menino agredido de 12 anos, afetando gravemente o seu funcionamento atual, originando-lhe sofrimento.
Os processos pelos quais os esquemas são ajustados ou alterados definem-se na assimilação e na acomodação. Na assimilação, novas informações são incorporadas a esquemas pré-existentes; na acomodação, os esquemas existentes podem ser alterados ou novos esquemas podem ser formados à medida que uma pessoa aprende novas informações e tem novas experiências. É precisamente aqui, na acomodação, que, em contexto terapêutico, podemos modificar os esquemas. As experiências podem ser ressinificadas, passando a narrativa a ser mais funcional, podendo a história pessoal, aquela que contamos a nós mesmos, a ser narrada sob outra perspetiva, mais adaptativa, e ajustada à pessoa que somos hoje.