Opinião de Hélder Araújo Neto (Psicólogo Clínico)
Este artigo é, ligeiramente, diferente dos anteriores porque não versa sobre um só tema. Desta vez, pretendo deixar aqui algumas estratégias, que costumo recomendar aos meus pacientes. Incito-os a adaptar esta forma de lidar com as suas emoções e comportamentos, porque sei que os ajuda a ter mais flexibilidade, e a experimentar menos sofrimento psicológico nas suas vidas. Convido o caro leitor a fazer o mesmo, e, quiçá, ajudá-lo-á a perspetivar a sua vida de forma diferente.
Assim, as chamadas estratégias inteligentes podem ajudar-nos a lidar com o mundo real, e parte do mundo real são as nossas emoções. E, elas são: Realismo Emocional, Deceções Inevitáveis, Desconforto Construtivo, Fazer o que não quer, Imperfeição Bem-sucedida e Satisfação Flexível.
Realismo emocional. Algumas vezes achamos que as nossas emoções deveriam ser boas, felizes e agradáveis. Isso é perfecionismo emocional. Com a pressão de sermos felizes, podemos sentir-nos mal por não estarmos sempre a sorrir, sempre bem. O perfecionismo emocional impede-nos de aceitar emoções como a tristeza e a frustração. Sugiro o realismo emocional, que permite acolher todas as emoções e normaliza os sentimentos difíceis.
Deceções Inevitáveis. Reconhecer, e aceitar, que nos podemos dececionar é fundamental. A felicidade não deve ser vista como um estado constante. Aprender a lidar com frustrações e deceções é importante para a vida. Não devemos esperar que tudo aconteça como planeamos. As deceções não significam que, por exemplo, os nossos relacionamentos sejam maus, apenas que a vida é feita de altos e baixos.
Desconforto Construtivo. Pense em algo que realizou e no desconforto que passou para o conseguir. O desconforto acompanha amiúde conquistas importantes, como aprender uma nova habilidade. A título de exemplo, refiro que quem tirou a carta de condução sabe que, no início, enquanto está a aprender, experimenta elevado desconforto. Neste sentido, é, muitas vezes, necessário tolerar desconforto para alcançar os objetivos.
Fazer o que não quer. A vida requer fazer o que não queremos. Para perdermos peso, por exemplo, devemos comer menos e exercitarmo-nos mais, mesmo que não o queiramos. A verdadeira questão é a seguinte: o que é que está disposto a fazer para alcançar os seus objetivos? Às vezes, as pessoas acreditam que podem alcançar resultados positivos apenas fazendo o que querem, mas o progresso vem de escolher fazer o que precisa de ser feito, mesmo que não seja agradável.
Imperfeição Bem-sucedida. A ideia de que é preciso ser perfeito para ter progresso pode ser prejudicial. Podemos procrastinar, adiando o que é necessário fazer, devido a acharmos não termos alcançado, ainda, as condições ideais, perfeitas, para alcançar o nosso objetivo. O progresso não precisa de ser perfeito. Podemos estabelecer metas menos ambiciosas, e, ainda assim, avançarmos. Cada pequena conquista conta.
Satisfação Flexível. Todos temos expectativas sobre a vida, ainda que essas expectativas podem ser arbitrárias. Muitas vezes, tratamos os nossos desejos como necessidades e frustramo-nos quando não os alcançamos. A flexibilidade em relação às expectativas pode aliviar a pressão. Se mudar as suas expectativas para se adequar à realidade atual, poderá sentir-se mais satisfeito.
Para terminar, deixo aqui uma metáfora ilustrativa do tema abordado.
Quando o elefante é ainda um filhote, os treinadores do circo amarram-no a uma estaca cravada no chão com uma corda resistente. Por mais que ele se tente soltar, não consegue. Ele puxa, luta, esforça-se, mas não tem força suficiente. Com o tempo, desiste, deixa de lutar. Aprende que é impossível soltar-se.
Anos depois, já adulto, forte e perfeitamente capaz de arrancar a estaca com facilidade, o elefante permanece preso. Não tenta fugir. A corda continua lá, fraca, fina, inútil, mas a mente dele ainda está presa ao passado. Assim, a verdadeira prisão não é a corda, mas a crença interior de não nos podermos libertar.
É uma metáfora sobre como nós, muitas vezes, carregamos limitações aprendidas, traumas, medos e inseguranças que nos impedem de crescer, mesmo quando já temos todos os recursos para isso. Estamos presos a uma forma de pensar e agir pouco flexível.