OPINIÃO

OPINIÃO -
A enfermagem como profissão de risco

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Em Portugal, como internacionalmente, a pandemia que vivemos está a condicionar o nosso dia-a-dia, paralisando o mundo e centrando as atenções, e bem, na saúde das populações, na saúde pública, ou seja, na proteção deste que é o bem mais essencial de todos e do qual, normalmente, só nos lembramos quando é colocado em causa, e deixa de ser um dado adquirido. Já diz o velho ditado que só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja. Assim, todos os esforços foram direcionados para o combate à pandemia COVID-19, constituindo um enorme desafio para os serviços de saúde.

A preocupação e o olhar sempre estiveram muito direcionados para aqueles que são o alvo dos cuidados, aqueles por quem o compromisso é assumido na defesa dos seus interesses, numa onda altruísta, solidária e profissional. É chegado o momento de assinalar o que está bem e ao mesmo tempo criar oportunidades de melhorar o que não está, numa relação estreita com a pandemia que a todos consome, e que está relacionado com o alto risco a que estão expostos todos os profissionais de saúde, e permitam-me a particularização pelas razões óbvias, os enfermeiros. Ao longo de todo este tempo, têm surgido muitos movimentos em honra aos profissionais de saúde, com palmas e reconhecimento de valor, que muito acalentam o nosso coração e o nosso dia-a-dia, mas o risco, esse, permanece lá, e os profissionais de saúde, continuam inabaláveis na sua missão e defesa do compromisso e dedicação que assumiram para o desenvolvimento da sua profissão. Mas tal não deve implicar que se ignore o outro lado da moeda, que é o risco profissional.

Um fator de risco profissional é um agente suscetível de provocar efeito adverso (dano) na saúde do trabalhador (ex. acidente de trabalho, doença profissional ou outra doença ligada ao trabalho). Para os profissionais de saúde, o risco está inerente à sua atividade, de uma forma muito simples, decorre de os enfermeiros exercerem a prestação de cuidados em contacto direto e permanente com pessoas e as condições de saúde que as levaram a recorrer aos serviços, podendo a todo o tempo e muitas vezes de forma inesperável, colocar em causa a sua condição de saúde pela exposição a diferentes fatores. Com isto, o meio da prestação de cuidados é propício ao risco, mesmo com todo o conhecimento e precauções sobre as medidas e equipamentos mais adequados a utilizar nas diferentes situações.

O risco de um profissional de saúde contrair doenças relacionadas com o trabalho é cerca de 1,5 vezes maior do que o risco de todos os demais trabalhadores. A necessidade de prevenir os riscos profissionais associados ao manuseamento de equipamentos perigosos, à exposição a agentes infeciosos, a fatores de natureza física, entre outros, é a razão determinante para que sejam desenvolvidos todos os esforços com vista a garantir ambientes mais seguros nos estabelecimentos de saúde e assegurar que o trabalho possa ser desenvolvido em condições mais saudáveis e mais seguras.

Acredito que nem tudo acontece por acaso, e uma prova significativa disso, e com alguma curiosidade à mistura, é o simbolismo e o enorme significado com que o ano de 2020 ficará marcado na memória de todos os enfermeiros. 2020 não será apenas relembrado por toda a reorganização dos serviços e profissionais para a resposta à pandemia COVID-19, mais sim como o ano em que se comemora o bicentenário do nascimento daquela que foi a pioneira da enfermagem, Florence Nightingale, pelo que a Organização Mundial de Saúde consagrou 2020 como o Ano Internacional do Enfermeiro. E este ano, que poderia ser comemorado com palestras e eventos comemorativos, fomos antes convidados, nós comunidade em geral e nós comunidade de saúde a refletir e a consciencializarmo-nos sobre a saúde pública, sobre os nossos comportamentos, mas também sobre a preponderância dos profissionais de saúde e a forma como se tornou visível o seu saber, saber-estar, saber-ser e o saber-fazer perante as inúmeras de técnicas e riscos. Que todos os enfermeiros possam continuar a merecer o aplauso das populações a quem cuidam, mas acima de tudo possam trabalhar em condições de segurança e minimização do risco.

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