O PS quer que o antigo Presidente da República Cavaco Silva esclareça “quando é que soube do buraco do BES” e porque é que “não agiu atempadamente” para evitar o aumento de capital, que gerou “um universo de lesados”.
À agência Lusa, João Paulo Correia, coordenador do PS na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, adiantou quais são as perguntas que o partido quer ver respondidas por escrito por parte de Cavaco Silva.
“As perguntas que têm de ser feitas a Cavaco Silva, que era Presidente da República, a autoridade política máxima na altura, é se confirma que tomou conhecimento no final de Março de 2014 da exposição do BES ao GES e se essa foi a primeira vez que teve acesso a informação privilegiada do BES”, questiona.
O deputado socialista quer ainda que o antigo chefe de Estado confirme se “tinha conhecimento em Maio de 2014 do buraco do GES”.
“Sobretudo porque é que não tomou nenhuma diligência nessa altura, naqueles meses, de forma que o aumento de capital, que foi concretizado em Junho desse ano, não se viesse a concretizar”, pergunta ainda.
De acordo com João Paulo Correia, “aquilo que todos perguntam é porque é que não se evitou esse aumento de capital, que gerou, como se sabe hoje, um universo de lesados”.
“Estas são as perguntas que se colocam a Cavaco Silva, que tinha contacto privilegiado com Ricardo Salgado: quando é que soube do buraco do BES, porque é que não agiu atempadamente e se tomou alguma diligência”, sintetizou, considerando que até hoje nunca se obtiveram estas respostas.
“Apesar de ao abrigo do regime jurídico do inquérito parlamentar” Cavaco Silva ter “o direito de não responder”, o deputado socialista espera que estas respostas sejam dadas, “a bem do escrutínio democrático, a bem do exercício da fiscalização parlamentar”.
“Não estamos a contar que Cavaco Silva fuja às respostas. Contamos que responda e estas são as perguntas que consideramos essenciais e são as perguntas que os portugueses há muitos anos querem colocar a Cavaco Silva”, disse.
Este pedido de depoimento por escrito insere-se num requerimento conjunto, pedido precisamente pelo PS, uma vez que, segundo João Paulo Correia, “houve pelo menos duas rondas de reuniões de contactos entre Ricardo Salgado e as autoridades políticas à época” que tinham como objectivo “conquistar o apoio dessas autoridades políticas para os objectivos de Ricardo Salgado”.
“Sabemos hoje que parte desses objectivos, com essas autoridades políticas, foram conseguidos com a suspensão das alterações à governação do BES, alterações essas que, se fossem implementadas, teriam evitado uma hecatombe maior”, acusou.
Esta semana, o BE, conforme noticiado pela agência Lusa, também já divulgou as perguntas que quer fazer ao antigo chefe de Estado, pretendendo que Cavaco Silva esclareça em que informações se baseou para falar, em 2014, da “estabilidade e solidez” do sistema bancário português, perguntando ao antigo Presidente da República se “recebeu donativos” do BES ou do GES.
O PS requereu, em 25 de Março, os depoimentos por escrito do antigo Presidente da República Cavaco Silva, dos ex-primeiros-ministros Durão Barroso e Passos Coelho e a audição presencial do ex-comissário europeu Carlos Moedas na comissão de inquérito do Novo Banco, audição esta que aconteceu já esta semana.
O anúncio foi feito no parlamento pelo coordenador do PS nesta comissão de inquérito, João Paulo Correia, um dia depois da audição de José Honório, ex-administrador do BES e Novo Banco, que segundo o socialista revelou que o antigo presidente do BES Ricardo Salgado entregou, em 2014, um memorando a cada uma das autoridades políticas em que dava conta do “buraco gigante em que estava enfiado o GES”.
“Passadas poucas semanas, depois destas reuniões que Ricardo Salgado teve com todas estas autoridades políticas, depois de conhecerem a dimensão do buraco do Grupo Espírito Santo, decorreu o aumento de capital do BES de cerca de mil milhões de euros”, referiu, considerando que as autoridades políticas, europeias e nacionais “nada fizeram para impedir este aumento de capital que gerou milhares de lesados” em Portugal.
Para o PS, há responsabilidades que “não estão suficientemente esclarecidas por parte destas autoridades políticas”.