O cidadão alemão que está a ser julgado no Tribunal de Braga por homicídio na forma tentada, por ter preso, em 2019, uma mulher da mesma nacionalidade algemada a uma árvore numa mata do Gerês, negou, em audiência, ter tido intenção de a matar.
O arguido, que está em prisão preventiva na «cadeia» de Braga, negou, também, ter abusado sexualmente dela numa pensão na vila do Gerês, dizendo que as relações que mantiveram não foram forçadas.
Gerhard Branz, de 56 anos, falou em alemão, tendo o seu depoimento sido traduzido por um intérprete.
Na sessão, foram, ainda, ouvidas as declarações feitas pela vítima, hoje com 31 anos, durante o inquérito-crime, gravadas no regime de «memória futura» para assim terem validade legal como se fossem proferidas em julgamento. As declarações contam o que se terá passado, ou seja, que o arguido a levou para a uma mata na zona de Rio Caldo, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês. Aí, vendou-lhe os olhos e a boca e algemou-a numa árvore, indo-se embora. Ela debateu-se, e horas depois, consegui quebrar as algemas.
A acusação do Ministério Público diz que, em 15 de fevereiro de 2019, agiu para matar a vítima, então com 29 anos, que sofria de perturbações de personalidade, deixando-a ao frio, sem poder comer, nem beber e sujeita a ser devorada pelos lobos. Abandonou-a de tarde, foi à pensão buscar as coisas, dele e dela, (incluindo escovas de dentes e cabelo) e fugiu para a Alemanha. A vítima, que esteve algemada seis a sete horas, conseguiu desenvencilhar-se da venda, gritou por socorro, sem ninguém a ouvir, e acabou por conseguir rebentar com as algemas, libertando-se, ao cair da noite. Aí correu pela floresta clamando por ajuda e chegou a uma estrada onde foi encontrada pelo mestre florestal Luís Vieira que a ajudou e chamou a GNR e uma ambulância que a levou ao Hospital de Braga.
“LIBERTAR-LHE A CABEÇA”
No dia do crime, o arguido disse-lhe que iriam dar um passeio pela floresta para ajudar a “libertar-lhe a cabeça e a livrar-se de pensamentos negativos”. Foram de carro até Vilar da Veiga, Terras de Bouro, e entraram a pé numa mata por um trilho. Pelo caminho ele ia dizendo que aquilo a libertaria de “todos os males”. Pararam e ele, tapou-lhe os olhos e o nariz com um pano e algemou-a, mas com os braços envolvendo o tronco de uma árvore: “é para tua purificação espiritual!”, disse, garantindo que a ficava a ver e que a terapia duraria duas a três horas.
De imediato, saiu do local, deixando-a sozinha, facto de que ela só se apercebeu minutos depois. Em pânico, tentou chamá-lo e não conseguiu. Lutou para se desenvencilhar do pano, o que logrou alcançar e roçou os braços na árvore, conseguindo que as algemas partissem, embora ficasse com os pulsos lacerados. O MP salienta que o local é frio e húmido, e nele pouca gente circula sendo frequentado por lobos.
Os dois haviam chegado ao Gerês na madrugada do dia 10. A partir daí, o arguido aproveitou-se do facto de a vítima ter problemas de saúde mental, para abusar sexualmente dela.
“TERAPEUTA”
Gerhard Branz tinha-a conhecido em Osnabruck, através do então namorado dela, e conseguiu introduzir-se na casa deles, dizendo ser terapeuta, – o que era falso dado ser eletricista – e prontificando-se a ajudar a resolver os problemas do casal.
Convenceu-os a ter relações sexuais na sua presença, com o argumento de que isso fazia parte da terapia. E dava medicamentos. A seguir propôs-lhes uma viagem a Sevilha, Espanha, para melhorar a saúde dela, e eles anuíram. A partida ficou marcada para 7 de fevereiro. Só que, na véspera, o namorado zangou-se e cortou com ela, facto de que o arguido se aproveitou convencendo-a a fazerem juntos a deslocação. Partiram dia 6, de carro, que o Gerhard guiou até ao Gerês, dizendo que era melhor para o tratamento. Hospedaram-se na residencial «O Pimpão» e disseram que sairiam a 17.
O arguido foi detido em janeiro na Alemanha e extraditado. Está indiciado pelos crimes de homicídio, na forma tentada, sequestro, abuso sexual de pessoa incapaz de resistência e burla informática.