Hélder Neto, Psicólogo
A opinião que costumo deixar aqui tem, de algum modo, a intenção de munir o leitor com uma nova “lente” ou, pelo menos, com a “lente” que já possui, ainda que com capacidade de um maior “zoom”. Tento sempre, com a minha opinião, fazer com que olhemos uns para os outros com mais compaixão, com mais atenção, para sermos todos uma versão melhor de nós mesmos. Desta vez, quero falar da depressão, uma doença que afeta cerca de 10% dos portugueses A Organização Mundial da Saúde descreveu-a como sendo o problema de Saúde mais frequente em todo o mundo.
O que é a depressão? De uma forma simplista, nos seus vários tipos, pode caracterizar-se como uma patologia que proporciona a projeção de sentimentos de tristeza profunda e persistente no tempo. Provoca o aprofundamento da sensação de vazio, de cansaço e, de uma forma geral, de desinteresse por qualquer tipo de atividades.
Por ser uma doença que pode atingir vários níveis, no caso de uma pessoa com um episódio depressivo leve, terá, provavelmente, alguma dificuldade em manter a sua atividade profissional e social habitual, mas não ficará completamente incapaz de as exercer.
Num outro nível, uma pessoa com uma depressão “major”, muito provavelmente, será incapaz de continuar a exercer a sua atividade profissional, bem assim como outras atividades sociais habituais. Esta incapacidade deve-se à falta de interesse e prazer em realizá-las, mas, também e, sobretudo, prende-se com a incapacidade cognitiva. Nestes casos, a vida deixa de fazer sentido, de ter um propósito, tornando-se penosa a simples existência, potenciando uma séria possibilidade de a pessoa com depressão pôr termo à vida.
Por isso, sendo um dos meus propósitos, ao escrever este texto, alertar para quem nos rodeia, relembre, reiterando que todas as pessoas que conhecemos – absolutamente todas – estão numa luta constante, numa espécie de purgatório com o inferno em perspetiva, com uma ilusão profunda. Ou seja, um sofrimento autoinfligido, que carece de elucidação premente, porquanto nem tudo o que parece, efetivamente, é.
Os exemplos que a seguir descrevo, de famosos terminaram com a própria vida – todos eles diagnosticados com depressão -, ilustram o que atrás mencionei, sendo que, por serem famosos, apresentam-se como caos mais impactantes na mensagem que desejo transmitir.
Michael Hutchence, vocalista da banda australiana INXS, era rico, famoso, e chegou a ser considerado o homem mais sexy do mundo; Chris Cornell, vocalista da banda Soundgarden, era um homem bem-sucedido e com uma voz invejável; Anthony Bourdain, famoso “Chef”; Robin Wiliamms, ator em premiado por Hollywood; Ernest Hemingway, escritor laureado com o Nobel; Marilyn Monroe, famosíssima atriz, ícone de beleza; Vincent Van Gogh, pintor; Robert Enke, guarda-redes de futebol de clubes como o Barcelona e Benfica. Estas individualidades, entre tantos outras, das mais variadas áreas, que aos olhos do mundo parecia terem tudo, cometeram suicídio devido à depressão.
Para terminar, sugiro ao leitor que olhe em volta, com olhos de ver (como sói dizer-se), que comece a pensar e falar da depressão da mesma forma que se pensa e se fala de qualquer outra condição médica. Em traços gerais, se alguém tiver partido uma perna, deve ir ao hospital. Se soubermos que alguém tem cancro, à partida, deve fazer quimioterapia ou radioterapia, se alguém se queima, deve imediatamente tratar a queimadura. Portanto, se abordarmos as doenças mentais, sob a mesma perspetiva, empreendemos, efetivamente, por encorajar alguém com depressão a procurar ajuda. A ajuda existe. A depressão tem tratamento.