Artigo de Teresa Campos
Nutricionista
“Dica”, no dicionário da língua portuguesa, significa “indicação útil”. “Instantâneo” significa “que se faz num instante”. “Flexível” significa “complacente”.
Pior do que a gelatina instantânea é a gelatina já pronta. A gelatina instantânea é melhor em termos de resultado final mas, a gelatina já pronta, é mais rápida. Deseja-se encontrar o resultado da primeira na facilidade da segunda. Isso é uma ilusão.
Atualmente, pedem-se dicas, mas há, no entanto, todo um percurso, um conhecimento e um saber-fazer para chegarmos àquela recomendação. Pode ser uma questão de semântica mas, para qualquer um de nós que compreenda que “a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro”, a gelatina já pronta é uma analogia para a palavra “dica”. E, quase sempre, as dicas que são pedidas são mais do mesmo, sem compreenderem o valor da personalização e alheias do tempo de dedicação. Assume-se que é insolente quem se opõe oferecer o óbvio, o que se faz num instante. A educação é basilar e se alimentamos a “flexibilidade”, sabemos que o produto final será muito aproximado a uma gelatina já pronta. Não interessa como foi feito mas que já está feito. Encontramos também solução para essas expectativas: a mais básica! Mas, aceitem o que vos é dado e assumam quaisquer danos que daí advenham. Podem ainda dar sinal da vossa existência, mesmo que seja mínima mas concordante, ou, podem, sem capacidades de autocrítica e contribuição, manter uma postura de admoestar até que alguém seja complacente. Existe um motivo para nos organizarmos em sociedade que é, através da norma, haver a estabilidade de um grupo, sem se instaurar o caos.
Não peçam, a um/a nutricionista, uma dica, nem no seu exercício nem nas suas relações quotidianas (porque como podemos ser menos profissionais nos momentos mais “relaxados” quando devemos ser sempre profissionais?). Não esperem, ainda, do/a nutricionista, que aceite e promova pares que não tenham igual postura. Existe a norma e a ética e isso é intransponível.
A revolução alimentar possibilitou conhecermos a gelatina instantânea e, posteriormente, a gelatina já pronta. Estamos, sem dúvida, num ritmo galopante, sem ponderação para compreendermos o espaço e a função do outro, sem disponibilidade para receber de boa fé e, sem a capacidade de autocrítica. “Pôr em pratos limpos”, numa expressão popular que almeja, bem, a eliminação de ruídos em posturas, é a direção certa, de forma assertiva e honesta, e, por isso, serena.