Opinião de Hélder Araújo Neto
Psicólogo
Nos artigos, que aqui vos trago, tento trazer um construto psicológico diferente. Já vos trouxe, por exemplo, artigos relacionados com as emoções, com a depressão, e com a ansiedade. Sempre que escrevo, o meu objetivo é que o leitor obtenha mais conhecimento, que perceba que estes construtos podem ser a causa de diversas psicopatologias, de sofrimento psicológico, e, percebendo isso, proceder ao princípio do caminho para o fim desse sofrimento. Hoje versarei sobre o perfecionismo.
A definição de perfecionismo pode ser “o hábito de exigir a si próprio e aos outros uma elevada qualidade de desempenho, maior do que o requerido pela situação”. Um dos processos cognitivos que ajudam a descrever, e a manter, o perfecionismo é a atenção seletiva, que se expressa no facto de o sujeito perfecionista estar constantemente atento ao que está errado e, raramente, observar o que está certo. Outra característica que define as pessoas perfeccionistas é a forma como se veem, uma vez que sentem que são julgadas pelo que fazem e não pelo que são.
O perfeccionismo pode revelar, por um lado, um esforço adequado para alcançar o sucesso, como pode, por outro lado, traduzir o medo do fracasso pelo evitamento de erros, de tarefas e de desafios, insatisfação, esta, relacionada com o próprio desempenho, perdendo o sujeito a capacidade de produzir, conduzindo-o à procrastinação.
Podemos, portanto, categorizar o perfecionismo de duas formas: perfecionismo adaptativo – o “bom” –, que está associado a elevados níveis de aprendizagem, autoeficácia e desempenho em diferentes domínios de realização. Exemplos de pessoas com este tipo de perfecionismo são: Stanley Kubrick (realizador de cinema); Cristiano Ronaldo (futebolista); Ludwig van Beethoven (compositor). Como se percebe, estes indivíduos alcançaram grandes realizações porque não bloquearam e, de certo modo, adquiram a perceção realista das suas capacidades, sendo, assim, capazes de admitir incertezas e erros sem se preocuparem, exageradamente, com as avaliações externas.
O outro, o perfecionismo desadaptativo – o “mau” –, está associado a uma baixa autoestima e tem sido, frequentemente, relacionado com diversas psicopatologias, nomeadamente a algumas perturbações de ansiedade, a sintomas depressivos e a sintomas obsessivo-compulsivos. Neste tipo, este construto surge, sobretudo, como uma tentativa de evitar a incerteza, de controlar o seu meio, muito mais do que atingir objetivos positivos. Estes indivíduos também evitam, frequentemente, o envolvimento em experiências novas, pois têm receio de cometer erros e, geralmente, reagem muito mal às críticas que lhe são apontadas, mesmo que estas críticas sejam construtivas. A motivação destes indivíduos não reside no alcançamento de metas elevadas, mas sim, antes, no evitamento do insucesso. Devido a estes fatores, os exemplos de pessoas com este tipo de perfecionismo são os inúmeros anónimos que (utilizando uma expressão mais prosaica) “passaram ao lado de uma grande carreira”.
Os perfeccionistas, normalmente, têm um estilo de vida marcado por um esforço intenso, persistente e compulsivo, visando atingirem metas dificilmente atingíveis – uma vez que a perfeição não existe –, acompanhado por autoavaliações excessivamente críticas e severas, procurando valorização através do respetivo desempenho.
Para um adequado funcionamento e adaptação do indivíduo, é necessário que este aprenda a viver com um certo grau de incerteza face a fatores que estão fora do seu controlo. Enquanto este não abdicar do controlo, e não conseguir fontes internas de valorização, o perfecionista não é dono e senhor de si próprio.