Por Manuel Araújo
Começo por me declarar agnóstico teísta, por isso, não sou fã de movimentos, associações ou seitas religiosas que amedrontam e ameaçam os “pecadores” com cenas mirabolantes de medo e ficção, como o céu, o inferno, virgens, etc., a fim de lhes infligir castigos e penitências. Por outro lado, esses grupos recompensam os “pecados” das pessoas mais humildes, oferecendo-lhes lugares cativos no céu e milagres, em troca de dinheiro ou de bens de valor, como ouro, anéis, pulseiras, etc. Alguns até prometem 72 virgens após “limpar o cebo” dos “porcos infiéis”. Todos esses grupos abusivamente recorrem ao mesmo Deus, rebaptizando-o e chamando-o pelo nome mais adequado ao objectivo pretendido.
A-propósito, e talvez por isso, de não acreditar, há alguns meses, fui castigado por algum desses seres invisíveis vingativos com um ataque cardíaco grave. Foi no final de Março, numa noite ao deitar-me senti uma indisposição, aperto e queimaduras no externo, dores que se expandiam para os braços. Notei uma certa confusão mental, com progressiva perda de consciência. Tentei encontrar os comprimidos de Nitroglicerina para colocar debaixo da língua quando suspeitamos que algo vai por o coração “saltar” ou parar, mas não os encontrei.
Estava só, no andar superior e liguei de imediato para o 112. Desci ao rés-do-chão a aguardar a chegada de ajuda e para estupefacção, em menos de cinco minutos os paramédicos tocam à porta. Soube que me injectaram algo. Senti frio. Muito frio… ligaram-me a umas maquinetas e aguardei. A ambulância chegou logo a seguir e levaram-me directamente ao serviço de cardiologia, onde, de imediato, realizaram um cateterismo. Disseram que se demorasse mais alguns minutos, já nada havia a fazer.
Após me colocarem um “stent”(um dispositivo metálico, colocado numa artéria para mantê-la aberta e evitar obstruções) no Hospital de Braga, fiquei internado nos cuidados intensivos por cerca de uma semana.
Embora seja comum a comunicação social e algumas pessoas que conheço, dizerem “cobras e lagartos” dos hospitais públicos, devo dizer que conheço um dos melhores hospitais de Zurique, onde trabalhei nas urgências e depois, no laboratório de farmácia e posso dizer que o hospital de Braga é tão bom quanto o de Zurique, e talvez até melhor.
Agradeço sinceramente a todos os trabalhadores da saúde que me trataram, incluindo os médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e todos os outros profissionais que me ajudaram.
Após ter sido tratado com excelência pelos profissionais de saúde no Hospital de Braga, fiquei ainda mais agradecido ao ouvir a história do meu grande amigo que prefere o anonimato, de Braga, que teve um ataque cardíaco grave semelhante ao meu e também foi tratado com excelência no mesmo hospital. Ele contou-me que pessoas com um ataque como o dele só sobrevivem uma em milhão, mas graças ao profissionalismo e dedicação da equipa de saúde, ele conseguiu superar essa situação difícil. É por isso que quero deixar aqui o meu mais sincero agradecimento a todos os profissionais de saúde do Hospital de Braga e ao Serviço Nacional de Saúde em geral, pelo excelente tratamento recebido e pelo sucesso da recuperação.
Todos os que “emprenham pelos ouvidos” e denigrem o Serviço Nacional de Saúde, não sabem do que falam. Eu e esse amigo, somos prova viva de que o SNS é um serviço de qualidade e que merece todo o nosso respeito e gratidão. Por isso, quero deixar aqui o meu agradecimento, tardio, a todos os profissionais de saúde que me trataram e ao Pedro, pelo cuidado e dedicação que demonstraram no nosso tratamento.
A minha experiência de sobrevivência a um ataque cardíaco grave trouxe-me reflexões diferentes sobre a vida e sobre os ataques cardíacos em si. Alguns dizem que foi sorte, outros que foi Deus e que devo agradecer. No entanto, independentemente da minha crença pessoal, só posso agradecer ao Hospital de Braga e ao incrível Serviço Nacional de Saúde pelo seu tratamento excepcional e por me terem salvado a vida. Obrigado!