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Igreja pede “perdão” e diz não tolerar “abusos nem abusadores” sexuais

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, fez esta segunda-feira à tarde uma declaração em nome da Igreja Católica portuguesa, pedindo desculpa às vítimas de abusos sexuais e às suas famílias. Com 43 casos denunciados o distrito de Braga aparece em terceiro na listagem por distribuição geográfica. Viana do Castelo é o nono com 10.

Sublinhando que a instituição terá de impor “tolerância zero” para os abusos e a sua ocultação, o bispo admitiu ainda assim que “algumas coisas” não lhe foram comunicadas como devido.

Relatório pode ser acedido aqui.

“Hoje, eis-nos chegados à conclusão de uma importante etapa que nos permite conhecer de forma mais sistematizada esta dolorosa realidade”, começou por dizer José Ornelas, referindo que a ideia da criação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal partiu da própria Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

“Motivou-nos a certeza comum entre todos os bispos de que menores e pessoas frágeis têm de sentir protecção e segurança nos ambientes da Igreja Católica, como nos pede insistentemente o Papa Francisco”, afirmou.

“O relatório hoje [segunda-feira] publicado exprime uma dura e trágica realidade. Houve e há vítimas de abuso sexual provocadas por clérigos e outros agentes pastorais no âmbito das atividades da Igreja em Portugal. O estudo apresentado recolhe o testemunho de 512 vítimas directas e aponta para outras prováveis”, continuou o também bispo de Leiria-Fátima, assinalando “ainda várias consequências destes crimes, que podem ter estado na origem de dramas e sofrimentos incomensuráveis, que marcaram vidas inteiras”.

“É uma ferida aberta que nos dói e nos envergonha. Pedimos perdão a todas as vítimas. As que deram corajosamente o seu testemunho, calado durante tantos anos, e às que ainda convivem com a dor no íntimo do coração sem a partilharem com ninguém”, admitiu o presidente da CEP.

“A tolerância zero para os casos de abusos tem de ser uma realidade em toda a Igreja, e por isso não toleraremos abusos nem abusadores”, afirmou. Depois de analisar o relatório final da comissão, a CEP vai procurar “os mecanismos mais eficazes e adequados para fomentar uma maior prevenção e para resolver possíveis casos com celeridade e respeito pela verdade”.

“Nas vossas vidas atravessou-se a perversidade, onde nunca devia ter estado. O vosso testemunho é, para nós, um alerta e um pedido de ajuda a que não queremos nem podemos ficar surdos. Temos consciência de que nada pode reparar o sofrimento e a humilhação que foram provocados a vós e às vossas famílias, mas estamos disponíveis para vos recolher e acompanhar na superação das feridas que vos foram causadas e na recuperação da vossa dignidade e do vosso futuro”, frisou o eclesiástico.

De acordo com José Ornelas, não só “os abusos de menores são crimes hediondos”, como “quem os comete tem de assumir as consequências dos seus actos e as responsabilidades civis, criminais e morais daí decorrentes”. “É preciso que reconheçam a verdade sem nada esconder, que se arrependam sinceramente, peçam perdão a Deus e às vítimas — e que procurem uma mudança radical de vida, com a ajuda de pessoas competentes”, avisou.

Durante esta segunda-feira de manhã, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que começou a recolher testemunhos em 11 de Janeiro de 2022, revelou ter recebido 564 testemunhos, dos quais 512 foram validados, os quais são relativos a pelo menos 4.815 vítimas desde 1915.

O número revelado “é muito maior do que aquele que soubemos apurar até hoje”, admitiu o presidente da CEP. “Pedimos desculpa, por não termos sabido criar formas de escuta e escrutínio interno, e por nem sempre termos gerido as situações de forma firme e guiada pela protecção prioritária dos menores”, acrescentou.

DADOS ENVIADOS AO MP

Já na fase das perguntas dos jornalistas, D. José Ornelas foi questionado quanto ao que a CEP irá fazer no que toca aos casos dos eclesiásticos que se vejam culpados, tanto dos abusos como da sua ocultação.

Frisando desde logo que o relatório foi apenas entregue às autoridades da Igreja na noite de domingo, o bispo disse que “uma  leitura em diagonal não permite fazer isso”. Além disso, destacou que o relatório da comissão não contém nomes.

Em todo o caso, “se há uma denúncia, o bispo deve fazer uma investigação sumária para verificar a plausibilidade do processo. No entanto, nem sequer é o bispo que age, porque os casos são enviados para a Santa Sé, que tem mecanismos próprios para isso”, afirmou.

 Por outro lado, “esses dados serão também enviados para o Ministério Público. Portanto, do ponto de vista civil, serão tratados convenientemente, segundo os protocolos que a Igreja estabeleceu para isso”.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Com uma média de idades de 11 anos, as vítimas residentes em território nacional estão dispersas um pouco por todo o espaço geográfico português, existindo casos em todos os distritos e regiões autónomas, com excepção do distrito de Portalegre.

 No entanto, a maioria das pessoas reside em distritos do litoral oeste, seguindo a tendência da distribuição nacional da população portuguesa, com destaque para Lisboa (148 casos), Porto (64 casos) e Braga (43 casos).

Seguem-se os distritos de Setúbal (30 casos), Leiria (23 casos), Aveiro (21 casos), Santarém (20 casos), Coimbra (19 casos), Viana do Castelo e Viseu (10 casos em cada).

Nos restantes distritos, os valores são inferiores aos 10 casos. Por fim, deve assinalar-se que em 20 casos as pessoas vítimas não forneceram informações que permitissem identificar o distrito onde residem.

 

Com MadreMedia

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