Por Hélder Araújo Neto – Psicólogo Clínico
A felicidade é um conceito tão subjetivo, tão idiossincrático, que existem tantas “felicidades” quanto existem seres humanos. A felicidade só pode ser observada e relatada pelo próprio indivíduo e não por indicadores externos escolhidos e definidos por terceiros. Para uma criança, um momento de felicidade pode ser um qualquer brinquedo.
Para um adulto, passará a felicidade por comprar o último modelo da sua marca de automóvel preferida, ou ver o seu clube ganhar uma competição, entre outros exemplos. No entanto, tal como me compete, a minha tentativa de descrever a felicidade será mais técnica, mais científica, evitando incorrer em subjetividades passíveis de interpretação.
Não podemos estar felizes se não tivermos mecanismos neurobiológicos para podermos experimentar esta sensação. A felicidade exige a existência de um equilíbrio de neurotransmissores no organismo. “Mas o que são os neurotransmissores?”
Neurotransmissores são substâncias químicas produzidas, e libertadas pelos neurónios, para transferir informações, estímulos ou impulsos nervosos, até ao órgão alvo, com vista a estimular ou inibir alguma ação. Os neurotransmissores podem controlar diversas ações, tais como a aprendizagem, a memória, o humor, o controlo motor, a atenção, o prazer, o controlo hormonal, o bem-estar, a fome ou a saciedade.
Os principais neurotransmissores implicados no processo da felicidade são a dopamina, a endorfina, a ocitocina e a serotonina. Vamos definir este elenco. Assim:
A dopamina é libertada no cérebro através de experiências gratificantes, como a comida, o sexo e os estímulos que lhes ficam associados. A endorfina está relacionada com a gratificação do exercício físico, por exemplo. A ocitocina é a droga do amor. Este neurotransmissor faz com que fiquemos mais desinibidos e o nosso cérebro confie mais nas pessoas, sinta prazer com o contacto físico, e na convivência com outras pessoas.
A serotonina é um dos principais neurotransmissores, pois é o responsável pelo amor-próprio, pela sensação de orgulho por nós mesmos. Surge no cérebro quando nos sentimos aceites no nosso ambiente, pelo nosso grupo de pares, e a sua presença no organismo influencia diretamente a produção de cortisol (a hormona do “stress”: quanto mais altos os níveis de cortisol, mais baixos os níveis de serotonina e vice-versa).
Partilho, sugiro, quatro estratégias para aumentar os níveis de serotonina, de forma natural:
- Praticar, com regularidade, técnicas de relaxamento, meditação ou mindfulness. A prática de meditação é capaz de aumentar a libertação de serotonina;
- Promover a exposição à luz solar. Para ilustrar os uso desta estratégia, deixo aqui uma curiosidade: um dos fatores do elevado número de suicídios, nos países nórdicos – por comparação com o número residual em países africanos, por exemplo, prende-se com o facto de existir menor exposição solar nos primeiros;
- Praticar atividade física regular faz aumentar o nível de serotonina, quer no cérebro, quer no meio extracelular;
- Conservar cuidados alimentares e de nutrição. Os alimentos com vitaminas B6, B9 e B12 são necessários para estimular a produção, libertação e a conversão do aminoácido triptofano em serotonina.
Como vê, caro leitor, temos ferramentas que podemos, e devemos, utilizar para sermos mais felizes.