Hélder Araújo Neto
(Psicólogo Clínico)
O que me motivou a escrever este artigo foi o facto de o mesmo ser publicado no início de janeiro, quando muitas pessoas iniciam, ou tentam colocar em prática, as resoluções de Ano Novo. Pretendo, desta forma, tentar esclarecer o leitor sobre os mecanismos da motivação. Existem muitas teorias que tentam explicar esse fenómeno complexo – como a Teoria da Hierarquia das Necessidades, desenvolvida por Abraham Maslow, ou a Teoria da Autodeterminação, dos psicólogos Deci e Ryan.
No entanto, a teoria que pretendo descrever, é a que utilizo com os meus pacientes, uma vez que, na minha perspetiva, quando se trata de compreender e promover mudanças de comportamento, a Teoria da Motivação, de James O. Prochaska, emerge como uma ferramenta inovadora e relevante. Esta teoria tem desempenhado um papel crucial na compreensão da psicologia da mudança e na implementação de estratégias eficazes para a promoção de, por exemplo, estilos de vida mais saudáveis.
Prochaska propôs um modelo conhecido como “Modelo Transteórico de Mudança”. Este modelo identifica diferentes estágios, pelos quais as pessoas passam ao tentar modificar comportamentos indesejados ou adotar hábitos mais saudáveis. Os estágios incluem: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação, manutenção e recaída. Na fase de pré-contemplação, os indivíduos não estão cientes, ou não reconhecem, a necessidade de mudança.
A contemplação marca o estágio em que a pessoa reconhece a necessidade de mudança, mas ainda não está comprometida com a ação. A preparação é caracterizada por um aumento da intenção de mudar, seguida pela fase de ação, na qual ocorre a implementação real das mudanças desejadas. A manutenção refere-se à consolidação dos novos comportamentos e a recaída reconhece a possibilidade de retrocesso para comportamentos antigos.
Uma das características notáveis da teoria de Prochaska é a ênfase na individualização do processo de mudança. Cada pessoa pode estar num estágio diferente, e as abordagens personalizadas são mais eficazes do que as abordagens generalizadas. A utilização deste modelo auxilia a adaptação de estratégias de intervenção, reconhecendo que as técnicas eficazes para uma pessoa podem não ser tão eficazes para outra. Além disso, esta teoria destaca a não linearidade do processo de mudança.
As recaídas não são vistas como falhas permanentes, mas como oportunidades para aprender e ajustar as estratégias de intervenção. Este processo contribui para uma abordagem mais compreensiva, compassiva e realista relativamente aos desafios associados à mudança de comportamento.
A aplicação prática da Teoria da Motivação de Prochaska (e, como sabemos, não existe nada mais prático do que uma boa teoria) tem sido observada em diversos campos, como, por exemplo, na saúde, na psicologia clínica, na educação e na promoção da saúde. Programas de prevenção de doenças, intervenções para cessação do tabagismo e outras adições, a promoção de atividade física são apenas alguns exemplos de áreas em que essa teoria tem sido implementada com sucesso.
A motivação é um ingrediente vital para o sucesso pessoal e profissional. Cultivar uma mentalidade motivada envolve uma combinação de fatores internos e externos, resiliência emocional e a capacidade de aprender com os desafios. Ao compreendermos os mecanismos da motivação, podemos moldar o nosso destino. Assim, para terminar, havendo o prezado leitor efetuado resoluções de Ano Novo, existe a necessidade de se perceber em que fase, em que estágio de prontidão para a mudança se encontra, devendo ajustar os seus comportamentos a essa mesma fase, para que tenha mais sucesso com os respetivos objetivos.