Opinião de Hélder Neto, Psicólogo
Trago a tristeza, como prometido. Contextualizando: nos últimos artigos, falei das emoções de uma forma geral, tentando descrever as suas funções e importância. Tentei também esclarecer a utilidade de todas, por via da crença generalizada de que existem emoções boas e más, essa crença que nos diz que devemos estar sempre bem, sempre alegres, em busca de emoções “positivas” e evitar as “negativas”. Esta crença que prejudica bastante a saúde mental. Pode causar, por exemple, ansiedade ou depressão, sendo, portanto, contraproducente. Este texto versará sobre a tristeza. Desejo abordar esta emoção porque, para além de o ter prometido no último artigo, este é o estado emocional de que as pessoas mais tentam fugir. Afinal, quem é que gosta de estar triste?
Inicio este parágrafo com parte do sumário de um artigo da revista Neurosciense de julho de 2019; “Os humanos não foram desenhados para serem felizes, mas sim para sobreviverem e se reproduzirem. A evolução deu relevância à depressão, considerando-a uma vantagem, uma vez que prevenia que os humanos se colocassem em situações perigosas e arriscadas”.
A vantagem de que fala o artigo foi verificada por Joe Forgas, professor de Psicologia na Universidade australiana de New South Wales, que conduziu um estudo em que induziu emoções consideradas negativas, como a tristeza, num grupo de participantes, e emoções consideradas positivas, como a alegria, num outro grupo, monitorizando os seus desempenhos numa série de atividades. As suas conclusões demonstraram que os participantes que experimentaram emoções “negativas” tiveram melhor performance do que o outro grupo na maior parte das atividades. A memória demonstrou ser mais precisa; a comunicação foi considerada mais persuasiva e efetiva; e o julgamento parecia estar mais correto e livre de preconceitos ou outros vieses.
A tristeza acarreta uma redução significativa do nível de energia, e de prazer nas atividades, por forma a, por exemplo, promover um ajustamento a uma perda, procurar suporte social, criar introspeção e perceber as consequências das nossas ações. Em termos evolutivos, é possível que essa perda de energia tenha tido como objetivo manter os seres humanos vulneráveis (em estado de tristeza), para que permanecessem perto de casa, onde estariam em maior segurança, instigando, dessa forma, a procura por apoio social. A tristeza também serve como um pedido de ajuda, produzido de forma instintiva. Se observarmos um bebé, vemos que quando este sente algum desconforto recorre ao choro para conseguir a ajuda de que precisa. Assim, de um modo geral, o ser humano, sendo eminentemente um ser social, tende a ajudar os seus semelhantes quando estes demonstram algum tipo de tristeza ou sofrimento.
Numa outra perspetiva, olhando o seu lado positivo, a tristeza, é também responsável por obras de arte como o “Só”, obra literária, maior, de António Nobre, a pintura de Monet “O Amor Por Camille”, a “Lacrimosa”, composição de Mozart, ou “The Eternal” da banda musical “Joy Division”, citando apenas alguns de entre uma infindável quantidade de exemplos.
Em jeito de conclusão, da próxima vez que sentirmos alguma emoção, lembremo-nos deste artigo e escutemos a mensagem, tentando perceber o que a emoção nos está a dizer e qual a sua função. É muito importante possuirmos a noção que estas emoções são informações, por oposição a ordens, podendo nós decidir o que é melhor para nós. As mensagens que as emoções transmitem são demasiado importantes para serem ignoradas, sendo que, por isso, tentar ignorá-las ou evitá-las só faz com que elas se intensifiquem e sejam mais frequentes.