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Abusos. “Não é possível manter a impunidade nem o silêncio”, escreve bispo auxiliar de Braga

D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, sublinhou esta segunda-feira a necessidade de acolher “todas as denúncias” de abusos sexuais e tomar medidas, como indica o manual divulgado pelo Vaticano em 2020. Para o prelado “pedir perdão é necessário, mas não é suficiente”.

“É preciso pôr em prática, sem hesitação, o que consta nos números 9 a 31 do Vade-mécum, onde se insiste que o bispo deve acolher, analisar, avaliar e aprofundar, com a devida atenção, todas as denúncias, independentemente da forma ou do canal utilizado”, indica o responsável, em nota enviada à Agência Ecclesia.

Já numa mensagem publicada na página da internet da Diocese de Braga, intitulada ‘Pedir perdão é necessário, mas não é suficiente…’, o prelado escreve que “estes dias duros que vivemos, de via purgativa, de estrada penitencial, nos levem a caminhos novos em ordem a comunidades cristãs sãs e seguras, conscientes de que não pode continuar a haver vítimas, agressores e encobridores”.

Nuno Almeida recorda que, para este mês de Março, no âmbito da ‘Rede Mundial de Oração’, o Papa Francisco afirmou: ‘Diante dos abusos, especialmente aqueles cometidos por membros da Igreja, não basta pedir perdão’.

“Pedir perdão é necessário, mas não é suficiente. Pedir perdão é bom para as vítimas, porque são elas que devem estar ‘no centro’ de tudo. A sua dor, os seus danos psicológicos podem começar a cicatrizar se encontrarem respostas; acções concretas para reparar os horrores que sofreram e evitar que se repitam …’”, lê-se na mensagem.

O bispo, que até Fevereiro presidiu à Comissão de Protecção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga, realça, na nota à Ecclesia, que entre as providências a tomar, perante as denúncias, estão “medidas de tipo administrativo contra a pessoa denunciada, que poderão levar a limitações no ministério”.

MEDIDAS CAUTELARES

O texto sublinha que as “medidas cautelares” propostas pela Santa Sé admitem que a Igreja “poderá ou deverá ter de retirar o agressor identificado da actividade pastoral”, dado que as “medidas cautelares” preveem a possibilidade de afastamento ou proibição de exercício do ministério, enquanto decorre a “investigação prévia”, ou após a sua conclusão.

“A medida cautelar não é uma pena, pois as penas só se impõem no final de um processo penal, mas um acto administrativo. Tudo isto deve ser bem esclarecido ao interessado, para evitar que ele pense ter sido julgado ou punido antes do tempo”, precisa D. Nuno Almeida.

Os bispos portugueses, na última sexta-feira, uma lista com nomes de alegados abusadores, ainda no activo, que cada diocese vai investigar, segundo determinação da Assembleia Plenária Extraordinária, que decorreu em Fátima.

Para D. Nuno Almeida, “é preciso reforçar uma nova consciência sobre o poder de cada um para saber ouvir e ler os sinais de alerta, pois não é possível manter a impunidade nem o silêncio”.

O responsável aponta à criação de uma “bolsa de técnicos” e de acompanhadores espirituais, para as vítimas.

“Urge disponibilizar pessoas e programas para acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, bem como de acompanhamento espiritual e de reconciliação para as vítimas que o desejarem”, escreve.

O bispo defende a cooperação entre as Comissões Diocesanas e as CPCJ – Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de cada concelho e a APAV, bem como a abertura de um “canal de comunicação com o Ministério Público ou Polícia Judiciária”.

D. Nuno Almeida apela ainda ao acompanhamento dos agressores, com “programas de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, de acompanhamento espiritual e de reconciliação”.

Com Ecclesia

FOTO: João Pedro Quesado

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