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OPINIÃO -
Bullying

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Por Hélder Neto

Psicólogo

 

Este texto foi originado por duas notícias que li recentemente. Uma delas noticiava a agressão a um aluno de 12 anos, numa escola de Matosinhos, com direito a gravação de vídeo e a uma assistência impávida e serena. Dois dias depois, outra notícia, relacionada, referindo que a família do aluno agredido estaria a ser alvo de ameaças, por parte da família do agressor, por aqueles terem exigido justiça. 

Estas notícias impeliram-me a deixar aqui duas reflexões. A primeira – relacionada com o facto de os colegas terem assistido e nada terem feito – remete-me para uma reflexão do Bispo Desmond Tutu: “se formos neutros em situações de injustiça, estamos a escolher o lado do opressor”. A segunda reflexão prende-se com o facto de a família do agressor ameaçar a do agredido. Esta última ilustra bem uma das potenciais causas para o comportamento do agressor: o exemplo familiar.

Não consigo compreender a crença – de certo modo generalizada – que classifica as agressões em adultos como sendo agressão, crueldade em caso de animais, e educação no âmbito de uma criança. Quando um adulto – pai ou a mãe – bate numa criança, propaga a mensagem de que o mais forte pode bater no mais fraco. A criança internaliza esta mensagem, mimetizando-a, reproduzindo esse comportamento com os colegas.

Constatei esta realidade quando trabalhei, como psicólogo, numa comunidade terapêutica que acolhia jovens, rapazes, com problemas de consumos de drogas e que foram colocados naquela instituição para cumprirem medidas de promoção e proteção ou medidas tutelares educativas. Os jovens que acompanhei e que tinham, na sua história de vida, lidado com ambientes de bastante violência, na sua maior parte, eram os agressores, os bullyiers. Era esta a linguagem que conheciam devido à “educação” que tiveram. 

Por sua vez, vi as vítimas tornarem-se agressores, quando com colegas mais novos, precisamente pelo mesmo motivo. Passavam, desta forma, a uma linguagem por aprendizagem. A instituição pouco podia fazer para quebrar este ciclo, existindo, contudo, medidas educativas que eram interiorizadas como castigos, sendo pouco efetivas. Eram rapazes que estavam ali contrariados, que foram lá colocados por ordem de um juiz e que, praticamente, a única emoção que conseguiam exprimir era a raiva.

Este problema é muito complexo, muito difícil de combater. É necessário o empenho de todos e, mesmo assim, demoraria algumas gerações a mudar a mentalidade. Poderá parecer utópico, ainda que não devamos baixar os braços. Existem alguns projetos para combater o bullying, poucos, mas de louvar. Refiro três, como exemplo: 

  • Projeto Violentómetro”, desenvolvido pelo Aggression Lab da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com adolescentes entre os 12 e os 18 anos como público-alvo. 
  • O “Plano Escola Sem Bullying. Escola Sem Violência”, do Ministério da Educação.
  • Projeto Stop Bullying”, da Amnistia Internacional Portugal.

Quero só deixar aqui uma nota em relação ao cyberbullying; não o referi, intencionalmente, porque, embora tenha comunalidades com o bullying “mais tradicional”, apresenta também bastantes diferenças que darão um futuro artigo de opinião.

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