Preparar os orçamentos nacionais para um aumento em massa das despesas militares. Foi esta a receita defendida pela presidente da Comissão Europeia, para o Velho Continente, no termo da cimeira que Londres dedicou, este domingo, ao futuro da Ucrânia.
Ursula von der Leyen endereçou mesmo uma mensagem à Administração Trump: “Queremos que os Estados Unidos saibam que estamos prontos a defender a democracia”.
Ursula von der Leyen foi um dos primeiros rostos a abandonar o local da cimeira organizada pelo Governo britânico, que reuniu mais de uma dezenas de líderes europeus e o secretário-geral da NATO para discutir o futuro da Ucrânia – face à inversão da postura norte-americana pela mão de Donald Trump.
A presidente da Comissão Europeia afirmou que os interlocutores nesta reunião tiveram “uma discussão boa franca” sobre o modo de conferir à Ucrânia uma posição de força para eventuais negociações de paz com a Rússia de Vladimir Putin. Ou seja, dotar Kiev de “garantias de segurança alargadas”, quer do ponto de vista militar, quer em termos económicos.
“Temos urgentemente de rearmar a Europa”, propugnou a responsável alemã, para anunciar que o Executivo comunitário vai propor um plano já na próxima reunião do Conselho Europeu, agendada para a próxima quinta-feira.
“É da maior importância aumentar o investimento em defesa por um período de tempo prolongado. É pela segurança da União Europeia. E precisamos, no ambiente geostratégico em que vivemos, de nos prepararmos para o pior”, reforçou.
Questionada sobre o posicionamento de Trump, Von der Leyen quis ser taxativa: “Estamos prontos, juntamente consigo, para defender a democracia e o princípio de que há um primado da lei, que não se pode invadir e brutalizar um vizinho, ou alterar fronteiras pela força”.
Num tom pouco usual, a presidente da Comissão Europeia sustentou que os europeus terão de se concentrar “basicamente em tornar a Ucrânia num porco-espinho de aço que seja indigesto para potenciais invasores”.
“EUROPA ACORDOU”
Já o secretário-geral da NATO, que esteve igualmente à mesa da cimeira, fez o balanço de “uma reunião muito boa”, tendo em conta o compromisso para com um reforço dos gastos nacionais com armamento e o apoio à Ucrânia.
“Hoje [domingo], à mesa, ouvi novos anúncios e não vou ser eu a anunciá-los, porque devem ser os próprios fazê-los, mas isto são muito boas notícias, que mais países europeus aumentem as despesas com a defesa”, insistiu Mark Rutte.
“A Europa acordou”, estimou o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, nas redes sociais.
Os aliados, continuou o secretário-geral da Aliança Atlântica, querem “assegurar-se de que Putin não volte jamais a tentar atacar a Ucrânia. O que significa que teremos os europeus activos na Ucrânia, para garantir que a paz é mantida, sustentável e duradoura”.
Quanto a recentes declarações de Donald Trump sobre o Artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, ao abrigo do qual um ataque a um membro da NATO é encarado como um ataque ao conjunto dos países-membros, Rutte optou pelo léxico diplomático. O presidente dos Estados Unidos disse acreditar no Artigo 5.º, mas ressalvou que os Estados do Báltico vivem “num bairro duro”.
“Por favor, vamos parar com a bisbilhotice sobre o que os Estados Unidos podem ou não fazer. Eles estão na NATO, estão comprometidos com a NATO, estão comprometidos com o Artigo 5.º, é isto que dizem consistentemente”, advogou.
Concluídos os trabalhos na Lancaster House, o presidente da Ucrânia partiu de helicóptero para Sandringham, local de um encontro com o rei Carlos III.
Com RTP