A Espanha implementou, esta sexta-feira, uma nova medida contra o desperdício alimentar. Esta, a ser aplicada em restaurantes e bares, está a ser descrita como inovadora a nível europeu.
Consiste em obrigar todos os estabelecimentos a fornecerem aos seus clientes embalagens para que estes possam levar para casa os restos das suas refeições.
Ainda, os supermercados e empresas da indústria alimentar terão de implementar planos de prevenção do desperdício, para priorizar o consumo humano dos alimentos que não se vendem.
A comunicação social espanhola explica que, com a nova lei, estas empresas são obrigadas a encaminhar os produtos não vendidos para, primeiramente, a entidades sociais ou bancos alimentares.
Ainda, as grandes superfícies comerciais, com área superior a 1300 metros quadrados, estão agora obrigadas a ter acordos com organizações locais, para distribuição de alimentos.
Nas empresas do setor alimentar, os produtos não vendidos deverão ser usados na fabricação de outros, como compotas ou sumos. Quando isso não for possível, então devem ser encaminhados para compostagem, produção de biogás ou alimentação animal.
A lei agora aprovada pelo Congresso dos Deputados, vem generalizar a obrigação a práticas que já são adotadas por muitos estabelecimentos em Espanha e também em Portugal. Ainda assim, as associações empresariais destacam os desafios que estas podem trazer aos pequenos comércios e restaurantes.
Segundo Manuel Gómez Pallarés, especialista em Tecnologia de Alimentos e docente na Universidade de Valladolid, esta lei é «necessária e bem documentada», mas tem defeitos, sobretudo quando à indústria agroalimentar.
Em um artigo publicado no The Conversation, Pallarés diz que cerca 40% do desperdício alimentar espanhol resulta desse setor,
«Muitos destes desperdícios contêm nutrientes que poderiam melhorar a qualidade nutricional de novos produtos alimentares», aponta o especialista. Para isso, são necessários investimentos a garantir a segurança alimentar.
Ainda, Pallarés e entidades do setor destacam a falta de medidas concretas para reduzir o desperdício alimentar dirigidas aos consumidores, responsáveis por 41% do desperdício.
A legislação também prevê sessões de formação e sensibilização, como campanhas para perceber a diferença entre «data de validade» e «consumir de preferência antes de».
Os “alimentos feios”, como frutas ou legumes que, apesar de em bom estado, têm algum defeito físico, devem ser vendidos, segundo a legislação, como recomendação.
Em Portugal
No tópico dos alimentos próprios para consumo, a Fruta Feia, cooperativa portuguesa que comercializa esse tipo de produtos, afirma que «cerca de 30% das frutas e legumes são desperdiçados na Europa apenas devido à sua aparência», vinca.
O desperdício alimentar, além de outros, tem um impacto ambiental significativo, gerando elevados custos em termos de consumo de água, energia e emissões de gases com efeito de estufa.
Já em 2022, Portugal gerou cerca de 1,8 milhões de toneladas de desperdício alimentar, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Por outro lado, em Espanha, no ano seguinte, o valor foi de aproximadamente 1,3 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura espanhol.
No nosso país, há iniciativas parecidas com a lei espanhola. A Fruta Feia, a rede Refood e a aplicação Too Good To Go são exemplos, bem como o ato de pedir embalagens para sobras nos restaurantes, algo cada vez mais comum.
Com Executive Digest