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«Esta revolta é o culminar de uma série de anos de injustiças que os professores têm sentido na pele»

Aproximadamente uma centena de elementos da comunidade educativa – professores, assistentes operacionais e até pais e alunos – do Agrupamento de Escolas de Amares manifestaram-se na manhã desta quinta-feira em frente à Câmara Municipal, exibindo e entoando mensagens de protesto face às actuais políticas educativas adoptadas. Os manifestantes seguiram em marcha até ao local da concentração.

Muitos alunos do Concelho estiveram esta manhã sem aulas e a situação promete não ser muito diferente ao longo do dia, ou seja, em alguns casos haverá professores que irão leccionar enquanto para outros a paralisação irá prosseguir.

«POLÍTICAS EDUCATIVAS NÃO PODEM SER ASSIM»

Lurdes Cruz, professora na EB 2/3 de Amares e um dos rostos do protesto, explicou ao Jornal os motivos da marcha e consequente concentração às portas da autarquia.

«Faz parte da nossa luta. A greve, a concentração nas escolas para esclarecer os pais, as manifestações em frente às câmaras municipais… São tudo formas de luta pelas nossas reivindicações. Não queremos prejudicar as crianças, antes pelo contrario, queremos que aprendam. As nossas reivindicações têm que ver com as políticas educativas adoptadas ao longo destes 17 anos e que estão sempre a mudar… O que ontem era certo hoje já não é», vincou a docente, questionando: «Em que é que têm contribuído as políticas educativas para as aulas e para a aprendizagem? Facilitismo… a escola deveria ser um elevador social e cada vez menos isso acontece. Estamos num país onde a literacia não é grande, algo que também temos de mudar e combater», denotou.

«TANTO SE POUPA QUE SE ENRIQUECE A IGNORÂNCIA»

Também Teresa Joaquim, professora na EB 2/3 de Amares, marcou presença na manifestação e esclareceu as motivações do protesto.

«Esta revolta é o culminar de uma série de anos de injustiças que os professores têm sentido na pele. A primeira coisa que exigimos é a devolução dos anos de serviço que nos tiraram. Queremos, também, um concurso de professores transparente, através da lista da graduação e não por perfis. Queremos uma avaliação séria que valorize o trabalho pedagógico e ainda a abolição de quotas, que é uma medida simplesmente economicista», sublinhou a professora.

«Depois há também a questão da qualidade da Escola Pública, que tem decrescido imenso. Estamos cá a lutar por uma escola de qualidade, sem facilitismos e que está completamente burocratizada, algo que não queremos. Pretendemos salários dignos e que acompanhem a inflação. A questão da mobilidade por doença, a precariedade dos professores contratados, a reforma, a redução da componente lectiva, que foi algo retirado também… São muitas coisas. Estamos aqui para lutar e queremos respeito. Pensem que a educação é o futuro de um País. Estamos a lutar por nós mas também pelos alunos. Do jeito que está é um caos, pois tanto se poupa que se enriquece a ignorância», destacou.

«LUTA DOS PROFESSORES É JUSTA»

Já o presidente da Câmara Municipal de Amares, Manuel Moreira, acorreu igualmente ao local para falar com os muitos elementos da comunidade educativa presentes.

«Hoje estou aqui como presidente mas venho também no papel de professor, apesar de não o ser actualmente. Esta luta dos professores é justa e a minha intervenção foi no sentido de poder ajudar. Quem sofre são também os alunos e é importante que o Governo dê a mão a torcer ajudando estas pessoas», disse.

«ACHO LAMENTÁVEL O ESTADO EM QUE ESTÁ A SECUNDÁRIA E AINDA NÃO HÁ PERSPECTIVAS DE FUTURO PARA A INTERVENÇÃO»

Sobre o tema da Escola Secundária, que veio “à baila” ao longo do manifesto e que motivou vários diálogos entre os presentes, Manuel Moreira esclareceu que «é uma luta da Escola mas também nossa. As indicações que tenho são muito negativas e acho lamentável o estado em que está a escola, que a começar 2023 ainda não tem perspectivas de futuro para a intervenção ou da abertura do aviso».

«Não há ensino de qualidade se não houver um edifício em condições. Está na lista das escolas prioritárias mas até hoje não há nenhuns dados. A CIM do Cávado marcou uma reunião com o Ministro da Educação e ele não nos recebeu. Esse encontro era essencialmente para abordar a questão em torno da Escola de Amares e a de Esposende, ambas prioritárias. É lamentável que o Sr. Ministro não nos receba», atirou.

Face à questão das obras da cobertura que actualmente decorrem na Secundária, o autarca apontou que «a DGEST avançou com uma obra de colocação de cobertura na Escola Secundária, para remoção do amianto, mas em pleno inverno e a chover… Fui chamado lá e havia água no chão, computadores avariados… Faz- se uma obra numa escola que é da Câmara, a qual não teve qualquer conhecimento… É lamentável».

«OBRA É URGENTE»

Presente na manifestação esteve também Flora Monteiro, directora da Escola Secundária de Amares, que classificou a obra aguardada de «muito urgente».

«A última vez que falei com o Sr. delegado regional foi-me dito que efectivamente a Escola pertence ao grupo das prioritárias. Disse, ainda, que era importante estarmos prontos para quando fosse aberto um aviso de qualquer concurso. Temos o projecto todo aprovado pela DGEST, para cerca de 8/9 milhões de euros e não é uma loucura como em alguns casos, mas sim algo que contempla tudo aquilo a que os alunos têm direito e com dignidade. Actualmente não é isso que se passa», frisou Flora Monteiro.

OBRAS NA COBERTURA

Já quanto ao tema das obras da cobertura que se encontram a decorrer, a cargo da DGEST e com um custo de aproximadamente 100 mil euros, Flora Monteiro explicou que após uma visita do delegado regional, que «viu as condições», ficou decidida a intervenção.

«A partir daí, disseram-nos que iam, pelo menos, tratar das coberturas e da remoção do amianto, obra essa feita paulatinamente e paga pelo Ministério da Educação. Foi o que se conseguiu e foi substituída a cobertura do bloco 1, do bloco 2 (ambas nos últimos 4 anos) e agora foi substituída a cobertura da parte da cantina, serviços administrativos, polivalente, palco, entre outros. Não foi o melhor “timming” e pedi somente que a remoção do amianto fosse feita numa altura em que os alunos não estivessem. Assim foi e isso fez com que em tempo de chuva houvesse uma inundação. Os danos foram ainda alguns e é muito complicado. A escola é da responsabilidade do Sr. presidente de Câmara desde Abril (assinatura da delegação de competências), mas esta obra já estava orçamentada antes. Quanto às coberturas, estas ficam e o novo projecto já nem as contempla. Julgo que ficará pronta muito em breve», contou.

«ESTOU CÁ PARA LUTAR PELA DIGNIDADE DOS PROFESSORES»

Numa nota final e instada a comentar a presença na manifestação, Flora Monteiro enunciou: «Estou cá para lutar pela dignidade dos professores. Somos o motor da sociedade e do futuro e estamos com uma vontade enorme de transformar as nossas crianças e jovens para lhes proporcionar  um futuro melhor. Precisamos que esta profissão seja valorizada e respeitada. Enquanto não dignificarem uma série de aspectos que estão na lama e nublados não conseguiremos mudar. Os professores precisam de dignidade».

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