Sou, desde que me conheço, alguém que se identifica com os ideais de esquerda, enquanto orientação que tem no seu centro de atividade política a justiça social, a solidariedade e os valores humanistas. O tempo e uma maior maturidade fizeram de mim alguém que se identifica mais com o Socialismo Democrático, onde poderão situar-se, no centro-esquerda, os social-democratas e os progressistas, que aceitam a atuação da economia e dos mercados, mas com um setor público influente e ao serviço dos povos.
Por natureza, não poderia deixar de estar do lado do direito à greve e à reivindicação daqueles que se sentem desrespeitados e mal remunerados, enquanto trabalhadores. No Portugal industrializado a primeira greve terá surgido no sec. XIX, sendo certo que no Portugal democrático que vivemos no pós-25 Abril, foi em 1982 que tivemos a primeira grande greve geral, estava então no poder um Governo de direita (AD). Mais tarde, em 1988, durante um dos Governos Cavaco Silva o país vivia uma das mais importantes graves gerais, convocadas pelas duas grandes organizações sindicais, a CGDP e a UGT.
Estes fenómenos eram naturais, pois a uma governação ideologicamente mais virada para a competitividade do país e para o crescimento económico, normalmente em prejuízo das classes trabalhadoras, seguiam-se manifestações de defesa dessas mesmas classes. Nos braços de ferro e no equilíbrio das forças, o país tentava encontrar as soluções ajustadas à sua realidade.
Na viragem do milénio as greves começaram a surgir também durante os Governos de esquerda e, de alguma forma, a sua grande frequência, normalmente próximas das eleições, começou a banalizar o conceito e a fazer com que as pessoas começassem a resistir a estes movimentos livres e nobres.
Em boa verdade, quando hoje vemos dirigentes sindicais a “exigir a lua”, ou bastonários de ordem a militar despudoradamente em partidos políticos começamos a questionar o verdadeiro valor das greves contemporâneas.
Outrora importantes movimentos livres de reivindicação, importantes manifestações de força que garantiam o equilíbrio das decisões de fundo nas políticas públicas, hoje as greves são muitas vezes armas de arremesso político. Neste autêntico tabuleiro de xadrez político-partidário alguém está corromper a greve enquanto conceito, sempre que a instrumentaliza para chegar aos objetivos partidários de poder.
O que é deveras intrigante: Fazem-me confusão os financiamentos e mecenato ocultos, para pagar prejuízos salariais a grevistas! Não sei definir isto! Estará a nascer uma nova classe que são os “profissionais da greve”?
E atenção, não confundir estas com a importância da existência dos dirigentes sindicais.
Está na hora de refletir. Amanhã não se queixem que o cidadão comum ande cada vez mais irritado por não ter transportes públicos, por lhe ameaçarem com falta de combustíveis, ou por ver consultas e cirurgias eternamente adiadas. Este sem número de provações, das quais, afinal de contas, é o único inocente, representa uma prática altamente injusta para as sociedades, que ainda por cima se repete cada vez mais, em ciclos muito convenientes.
Não matem a greve!