Há quatro produtos responsáveis por um terço das mortes do Mundo, diz especialista britânica

Apenas quatro tipos de produtos, o tabaco, álcool, combustíveis fósseis e alimentos processados são responsáveis por, pelo menos, um terço de todas as mortes a nível global. Anna Gilmore, professora de Saúde Pública e diretora do Centro para a Saúde Pública do Século XXI na Universidade de Bath, alerta para o mesmo em entrevista ao jornal espanhol El País.

Segundo a investigadora, o impacto combinado destes quatro produtos resulta num número alarmante de mortes prematuras. «Estimamos que estes quatro produtos, sozinhos, estejam na origem de entre um terço e dois terços de todas as mortes no mundo», explica. Em 2021, de um total de 56 milhões de óbitos, 19 milhões foram atribuídos a indústrias associadas a estes produtos.

O tabaco lidera a lista como o mais mortífero, responsável por mais de 9 milhões de mortes em 2021, o que representa 16% do total global. Gilmore sublinha que «dois em cada três fumadores acabarão por morrer devido ao tabaco», alertando para o perigo subestimado e o facto de o vício começar frequentemente na juventude, quando as consequências não são percetíveis.

Na Europa, um estudo liderado por Gilmore concluiu que o tabaco é responsável por 1,15 milhões de mortes anuais. Este produto está diretamente ligado ao aumento da incidência de cancro, doenças cardiovasculares, AVCs, hipertensão, coágulos sanguíneos e problemas respiratórios crónicos. A especialista acusa ainda a indústria tabaqueira de manipular o conteúdo dos cigarros para aumentar o seu poder viciante, recomendando aos fumadores que procurem «tudo o que puderem para deixar de fumar».

O álcool surge como o segundo produto mais mortífero, causando a morte de 2,44 milhões de pessoas anualmente, o equivalente a 4,3% de todas as mortes globais. Para além de doenças como problemas hepáticos e cardiovasculares, o álcool está presente numa percentagem significativa de acidentes e mortes por lesão, representando 7% das mortes por ferimentos.

Mais surpreendente para muitos é o papel da alimentação. Em 2021, 5,4% das mortes globais foram atribuídas a riscos alimentares, nomeadamente más escolhas dietéticas associadas a alimentos ultraprocessados, excesso de sal, bebidas açucaradas, gorduras trans e carnes processadas. Os regimes alimentares com excesso de sal são os maiores contribuintes para estas mortes, com 2,27% dos óbitos na Europa ligados ao consumo excessivo de sal. Gilmore afirma que os alimentos industrializados são «manipulados para se tornarem cada vez mais apetecíveis, quase viciantes», criando um ciclo difícil de quebrar.

Os combustíveis fósseis, para além do seu impacto climático, estão a provocar milhões de mortes diretas devido à poluição atmosférica. A inalação prolongada de partículas finas (PM2.5) provenientes da queima de carvão, petróleo ou gás natural aumenta drasticamente o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares.

Estima-se que 4,5 milhões de pessoas tenham morrido em 2021 devido à poluição atmosférica causada por combustíveis fósseis, embora um estudo recente aponte um número ainda mais elevado: 8,34 milhões de mortes anuais. Na Europa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que estes combustíveis sejam responsáveis por 578.900 mortes anuais, sem incluir as mortes relacionadas com eventos climáticos extremos.

Apesar de a maioria destas mortes serem evitáveis, os quatro produtos continuam a dominar o mercado global, impulsionados por indústrias altamente lucrativas. Para a professora Anna Gilmore, os números são claros: reduzir o consumo destes produtos pode salvar milhões de vidas todos os anos, sendo crucial que a sociedade reconheça «o verdadeiro custo destes produtos e a forma como as suas indústrias operam para perpetuar o problema».

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Com Executive Digest