Por Catarina Pinto Cruz
Enfermeira
Pós-Graduada em Enfermagem de Cuidados Paliativos
A saúde é atualmente reconhecida como tendo uma forte componente mental. Na verdade, já em 1948, a constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhecia a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1948).
Os transtornos mentais são extremamente prevalentes em todos os países e são responsáveis por sofrimento, baixa qualidade de vida, aumento da mortalidade e enormes custos económicos e sociais.
Excluindo a morte prematura, as perturbações mentais representaram 31% do total, de anos vidas ajustados pela incapacidade (WHO e WONCA, 2008, cit. in Miguel & Sá, 2010).
É de salientar que as perturbações depressivas ocupam um lugar de destaque, tendo sido a quarta causa mais importante para a explicação da carga global da doença. As previsões da Organização Mundial de saúde apontam ainda para que em 2030 a depressão se torne no fator com maior contribuição para a carga da doença nos países mais desenvolvidos (WHO & WONCA, 2008, cit. in Miguel & Sá, 2010).
Em Portugal, os dados disponíveis permitem afirmar que 33,6% das pessoas com problemas de saúde mental não recebem tratamento (Almeida et al., 2010, cit. in Miguel & Sá, 2010).
A falta de capacidade dos sistemas para dar resposta às necessidades das Populações, tem conduzido vários autores a sugerir que os Cuidados de Saúde Primários (CSP) devem ter um papel cada vez mais relevante na prestação de cuidados de saúde mental.
Adicionalmente, a provisão deste tipo de cuidados ao nível dos CSP permite aproveitar algumas vantagens como um melhor conhecimento da família e do meio socioeconómico envolvente, uma maior proximidade e uma menor estigmatização dos serviços.
As sete principais razões para a integração da saúde mental nos CSP (WHO e WONCA, 2008, cit. in Miguel & Sá, 2010):
– O elevado peso da doença, quer em termos humanos quer em termos económicos;
– A necessidade de um enquadramento holístico no acompanhamento dos doentes;
– A falta de tratamento prestado a uma grande proporção dos doentes, visível na diferença entre a prevalência da doença e o número de doentes a ser tratado;
– A otimização do acesso;
– O facto de o seguimento em cuidados primários ser menos estigmatizante e discriminatório;
– A boa relação custo-benefício, se comparado com o seguimento de todos os doentes que necessitam de tratamento em cuidados especializados;
– A existência de exemplos que produziram bons resultados clínicos.
Como tal, não devemos continuar a ignorar tais factos. Na verdade, torna-se premente uma mudança no paradigma da saúde.
Os benefícios de integrar a saúde mental aos cuidados de saúde primários são deveras significativos. Por um lado, a integração garante que a população como um todo tenha acesso aos cuidados de saúde mental de que necessita no início do decurso dos transtornos e sem interrupções. Por outro lado, quando os indivíduos recebem cuidados nas unidades de cuidados de saúde primários, aumenta-se a probabilidade de melhores resultados de saúde e até mesmo de recuperação total, bem como da manutenção da integração social.
Recorde-se que os cuidados de saúde primários constituem o primeiro nível de contacto dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, a forma mais próxima e fácil de atendimento disponível, resultado deste modo em mais e melhor saúde mental.
Bibliografia:
Miguel, L. S., & Sá, A. B. (2010). Cuidados de Saúde Primários em 2011-2016: reforçar, expandir – Contribuição para o Plano Nacional de Saúde 2011-2016. Lisboa: Alto Comissário da Saúde.
WHO (1948) Constitution of the World Health Organization www.who.int/governance/eb/who_constitution_en.pdf. Acedido em 08 de Junho de 2021
WHO (1978) Declaração de Alma-Ata: Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde.
WHO & WONCA (2008). Integrating mental health into primary care – a global perspective. Singapura: Autor em http://www.who.int Acedido em 08 de junho 2021