Texto de Hélder Araújo Neto (Psicólogo Clínico)
Paul Watzlawick, um dos mais notáveis teóricos da comunicação, dizia que não existe “não comunicação”. Estamos sempre a comunicar, seja por meio de gestos, expressões faciais, postura corporal, tom de voz, a roupa que usamos, o corte de cabelo, a decoração da casa, etc. A linguagem não verbal, tema deste artigo, embora silenciosa, tem um impacto profundo na maneira como nos relacionamos uns com os outros. Estima-se que cerca de 70% de toda a comunicação humana seja não verbal. Isso inclui desde o aperto de mão firme, que transmite confiança, até ao desvio do olhar, que pode sugerir insegurança ou desconforto. O nosso corpo e as nossas expressões são como um segundo idioma, da minha perspetiva, mais honesto do que o verbal.
No ambiente de trabalho, por exemplo, a postura de um líder durante uma reunião pode influenciar diretamente a motivação da sua equipa. Um chefe que mantém os braços cruzados e a testa franzida durante uma apresentação pode transmitir desinteresse ou reprovação, mesmo que esteja a utilizar palavras de incentivo. Por outro lado, uma postura aberta, com gestos suaves e contacto visual, pode comunicar um ambiente de confiança e colaboração.
Nas relações pessoais, a linguagem não verbal é igualmente fundamental. Por exemplo, casais que conseguem “ler” as emoções um do outro, através das expressões faciais e da linguagem corporal tendem a ter relacionamentos mais saudáveis. Por vezes, um simples toque no ombro pode ser mais reconfortante do que uma longa explicação verbal de apoio.
A era digital trouxe novos desafios para a interpretação da linguagem não verbal. Por exemplo, nas minhas consultas “online”, sei que perco algumas informações que teria se estivesse na presença do paciente, obrigando-me a uma atenção mais apurada. Recordo-me de estar com uma paciente, presencialmente, e introduzia um tema, que sabia ser difícil para ela. Tinha eu decidido que seria o momento adequado. No entanto, quando o fiz, percebi que, embora a face dela estivesse a exibir um sorriso, o corpo, sobretudo as mãos da paciente, indicaram-me que não deveria seguir aquele caminho, naquela sessão, levando-me a retroceder, tendo voltado à temática, apenas, duas sessões depois. Neste sentido, percebi que se tratasse de uma consulta “online” teria, possivelmente, cometido um erro.
Em jeito de conclusão, deixo aqui um repto, sendo uma parte essencial da comunicação humana: tente desenvolver sensibilidade para a comunicação não verbal, porque é uma habilidade poderosíssima, que pode ser treinada, e pode abrir portas e construir pontes, enriquecer as relações, evitar mal-entendidos, sem que seja necessário dizer uma palavra.