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OPINIÃO -
Mães tóxicas

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Opinião de Hélder Araújo Neto

Psicólogo

 

Deixei as emoções para trás. Não as minhas, até porque não posso, nem quero, mas como tema. Nos últimos artigos versei sobre elas. Primeiro falei da importância de todas, de uma forma geral, e depois propus-me a escrever sobre cada uma, em particular, tentando descrever as suas funções e pertinência, para tentar desmistificar a ideia de haver emoções boas e más. No entanto, só escrevi sobre duas emoções, de uma forma mais extensa: o medo e a tristeza. Não descreverei as outras, quebrando assim a promessa de que o faria, porque me foi dado o feedback de que o tema das emoções, embora interessante, era demasiado abrangente, não se conseguindo fazer uma ligação direta à experiência de vida das pessoas. Não obstante, permita-me discordar dos referidos feedbacks, porque se há alguma coisa que faz parte da vida das pessoas, sendo permanente no seu dia-a-dia, são as emoções. Portanto, apesar da minha discordância, sinto que devo diversificar, uma vez que não escrevo para mim. Posto isto, o tema sobre o qual me debruço neste artigo é a toxicidade das mães.

Pretendo ser cuidadoso, e tentarei não ferir suscetibilidades. Sei que os filhos não trazem livro de instruções, e que as mães fazem o melhor que sabem, com os seus próprios instrumentos. Por essa razão, pretendo apenas tentar descrever os vários tipos de mães tóxicas, e os efeitos que podem ter na vida dos seus filhos. Embora os não descreva a todos, tento deixar aqui os mais impactantes tipos de mães tóxicas:

– A mãe super-protetora: tal como o nome indica, trata-se da mãe que se preocupa, em excesso, com os filhos. Tem medo de que lhes possa acontecer algo negativo, prestando-se, por conseguinte, a resolver tudo o que possa causar algum tipo de sofrimento. Não deixa espaço próprio aos filhos;

 – A mãe possessiva: Esta mãe não dá espaço aos filhos, tentando passar o máximo de tempo possível com eles, não por causa deles, tentando mitigar a sua própria solidão;

– A mãe dominadora deseja saber tudo acerca dos filhos. É altamente intrusiva e controladora, tomando decisões e fazendo escolhas pelos filhos. O resultado é que estes filhos tornar-se-ão, por razões óbvias, pessoas inseguras e com muita dificuldade na tomada de decisões;

– A mãe que se vitimiza: Instrumentalizar o papel de vítima é uma forma de controlo, de chamar a atenção. Esta mãe alega sofrer mais do que todas, sendo uma exímia distribuidora de culpas, sobretudo pelos filhos;

– A mãe amiga é a mãe que se considera amiga e companheira dos filhos. Abdica do seu papel de mãe, papel esse que deveria ser o modelo regulador, o exemplo, que equilibra a autoridade e o afeto;

– A mãe depreciativa é o tipo de mãe que não valoriza as capacidades ou as conquistas dos filhos, desprezando-os nas mais variadas situações. Por exemplo, se um filho apresentar uma nota de 18, esta mãe perguntará se a escala não ia até 20;

– A mãe perfeccionista: Este tipo de mãe, embora valorize as qualidades e capacidades dos filhos, nunca está satisfeita, exigindo, sempre, mais perfeição. Normalmente, não valoriza o esforço ocupando a sua atenção, apenas, nos objetivos;

Esta caracterização não é estanque. Pode haver uma mistura de características, de várias “mães”, numa só. Uma comunalidade que estas mães possuem é o de serem egossintónicas, ou seja, de se apresentarem em sintonia com o seu ego, não considerando que estejam a fazer qualquer coisa de errado.

Se reconhecer uma destas mães, na sua, provavelmente perceberá de onde vêm algumas das características, que lhe causam sofrimento, como a dificuldade na tomada de decisão, nos medos, na insatisfação, e em tantas outras. Neste sentido, pergunte-se quais são os seus direitos, reconheça o seu valor e a sua capacidade de assumir compromissos. O objetivo é tornar-se alguém que se pode nutrir, amar e cuidar. A partir deste ponto, pode começar a ter um relacionamento saudável com a sua mãe, sendo capaz de identificar as suas próprias características tóxicas e a recusar-se a transmitir esse legado aos seus filhos. 

No entanto, embora a perspetiva seja encorajadora, este é um caminho difícil. A terapia é necessária, no âmbito deste processo, para que possa haver validação e reconhecimento. É muito difícil desenvolver este “processo de acusação” às mães, por causa dos sentimentos de culpa envolvidos e do tabu que essa questão encerra. Assim, costumo recomendar aos meus pacientes que evitem confrontar a mãe tóxica, uma vez que elas não aceitarão a responsabilidade, resultando a discussão com a mãe a acusar os filhos de estarem errados ou loucos.

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