O Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, recebe no próximo sábado, pelas 21h30, os Mão Morta e o seu ‘Viva la Muerte!’, álbum criado para assinalar os 50 anos do 25 de Abril e os 40 anos da banda.
Num tempo em que as democracias enfrentam ameaças renovadas, os Mão Morta mergulham no fascismo, passado e presente, num espetáculo intenso e provocador. Com temas originais inspirados na música de intervenção portuguesa e cruzando rock, experimentalismo e um coro masculino, celebram a liberdade e reafirmam o seu espírito irreverente, deixando claro os perigos que corremos e em que a democracia incorre.
Em 2024, comemoraram-se os 50 anos do 25 de Abril e os 40 anos da fundação dos Mão Morta. Dois acontecimentos que aparentemente nada têm em comum, salvo o facto de que sem o 25 de Abril, e a liberdade e democracia que trouxe para Portugal e para os portugueses ao pôr termo a 48 anos de ditadura, provavelmente os Mão Morta nunca teriam existido.
Pelo menos não teriam existido como os conhecemos, com a sua reconhecida postura estética e a fraturante intervenção social e política, de que os discos ‘Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina o Ar Se Tornou Irrespirável’ e ‘Pelo Meu Relógio São Horas de Matar’ são exemplos.
DENÚNCIA DOS FASCISMOS
Numa época em que o perigo do regresso do fascismo se torna palpável, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo democrático, com a iniciativa ideológica das forças políticas conservadoras e o seu acolhimento privilegiado nos média a dirigir o discurso político dominante, os Mão Morta não podiam deixar de se manifestar e de denunciar o ar dos tempos num espetáculo sobre este recrudescimento das forças antidemocráticas.
‘Viva la Muerte!’ cruza referências melódicas e harmónicas da música de intervenção portuguesa pré-25 de Abril com o rock e o experimentalismo próprio da sonoridade dos Mão Morta.
Composto de raiz, este espetáculo foi buscar referência, por um lado, a autores como José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Ary dos Santos, entre outros, que viveram pessoalmente o fascismo salazarista e retiraram da ausência de liberdade e da censura institucionalizada a força e a motivação para compor música e, por outro, às temáticas do fascismo contemporâneo, também designado “pós-fascismo”, como o ultranacionalismo bélico, as teorias racistas da “grande substituição”, a globalização das teorias conspiracionistas, o ódio ao conhecimento científico e às instituições do saber ou o apelo ao pensamento único, de vocação totalitária.
CONVERSA SOBRE ‘VIVA LA MUERTE!’
Após o concerto, o foyer do Grande Auditório do CCVF recebe uma conversa idealizada pelos Mão Morta que propõe uma abordagem reflexiva, rigorosa e esclarecedora a partir do espetáculo.
Este momento de partilha com o público conta com a participação de Sílvia Correia, historiadora e professora universitária, e Carlos Martins, doutorado em Política Comparada e investigador da história do fascismo e de ideologias de extrema-direita. Ambos explorarão o conceito de fascismo em relação com o espetáculo. A moderação estará a cargo de Miguel Pedro.
Com letras de Adolfo Luxúria Canibal, música de Miguel Pedro e António Rafael, e arranjos de Mão Morta, este espetáculo conta com a participação dos músicos Adolfo Luxúria Canibal (voz), Miguel Pedro (bateria, electrónica), António Rafael (teclas, electrónica), Vasco Vaz (guitarra), Ruca Lacerda (guitarra e bateria) e Rui Leal (baixo e contrabaixo), aos quais se junta um coro dirigido por Fernando Pinheiro e constituído também por Jorge Barata, Lucas Lopes, Paulo Santos Silva e Tiago Regueiras.
Os bilhetes para o espetáculo têm o valor de 15 euros ou 12,5 euros com desconto e podem ser adquiridos em oficina.bol.pt, bem como presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) e a Loja Oficina (LO).
Foto: Adriano Ferreira Borges