Texto: Hélder Araújo Neto (psicólogo clínico)
O que motivou a escrita deste artigo foi o mês em que o escrevo, o mês de outubro, mês no qual a pessoa idosa é celebrada. Parece-me um tema relevante porque, devido ao aumento da expectativa de vida, a população mundial está a envelhecer a um ritmo acelerado. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas com sessenta ou mais anos deve duplicar até ao ano de 2050, facto que acarreta desafios individuais e coletivos. Aqui, pretendo centrar-me nos individuais.
O envelhecimento é um processo inevitável que faz parte da experiência humana, começando no momento em que somos concebidos, avançando gradualmente ao longo da vida, sendo marcado por mudanças físicas, emocionais, sociais e cognitivas.
Tal como o corpo necessita de atividade física, e de estimulação para se manter saudável, o cérebro necessita de estimulação para se manter ágil e evitar o declínio cognitivo à medida que envelhece. Algumas estratégias podem ser usadas para manter a saúde psicológica, sobretudo nas pessoas com mais idade.
Eis alguns exemplos: ler e escrever; aprender a tocar um instrumento musical; entreter-se com jogos lúdicos; aprender uma nova língua; efetuar exercício físico; manter a ligação aos amigos e à família; interessar-se por novos passatempos; fazer voluntariado; cuidar de um animal de estimação, etc.
Os aspetos mentais do envelhecimento processam-se de forma diferente dos aspectos biológicos. Não têm uma componente progressiva e irreversível. Pelo contrário, dependem da dinâmica entre a passagem do tempo e do esforço pessoal, da atitude de cada um. Assim, no sentido de se procurar o auto-conhecimento, o propósito e o significado na vida, tal como a experiência de vida acumulada, podem proporcionar uma nova perspetiva sobre o mundo.
Para ilustrar o que afirmei no parágrafo anterior, utilizo o exemplo de uma carta, escrita pelo realizador de cinema japonês, Akira Kurosawa, na altura com 77 anos, dirigida ao realizador de cinema sueco, Ingmar Bergman, que completava 70 anos. Nessa carta, Kurosawa contava a história de um pintor japonês, do século XIX, Tessai Tomioka, que apenas aos 80 anos conseguiu todo o esplendor na sua arte, escrevendo na mesma carta a Bergman que acreditava que os artistas só conseguiriam produzir a sua arte mais pura, sem nenhum tipo de restrições, tal como o pintor referido, a partir dos 80 anos. Dizia-lhe, portanto, que sentia que o seu verdadeiro trabalho, o mais puro, ainda estava para vir.
Ora, este é o tipo de atitude que pode fazer com que envelheçamos melhor, sendo que, o que diferencia o envelhecimento biológico do psicológico é o nosso poder de agência.
Escrevo este texto no dia do meu 52.º aniversário, 17 de outubro. As palavras que escrevi estão a ressoar em mim, logo tentarei cuidar do meu envelhecimento da forma mais saudável possível, física e mentalmente. Convido o caro leitor a fazer o mesmo, tenha a idade que tiver, para que, no fim das nossas vidas, possamos clamar a frase que é o título de um livro do escritor chileno, Pablo Neruda, frase essa que gostaria de ter no meu epitáfio: “Confesso que vivi!”.