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OPINIÃO

OPINIÃO -
O Tempo

Opinião de Hélder Araújo Neto
Psicólogo Clínico

Pergunta: o que anda a adiar?

A inspiração para este artigo surgiu a partir da leitura de um livro que estou a ler, que ainda não foi publicado, intitulado “Uma Questão de Tempo”, havendo tido o autor a gentileza de me ceder uma cópia do manuscrito. O referido autor é um professor de física, reformado, e que sempre teve uma quase obsessão pela passagem do tempo. A obra demorou-lhe cerca de 20 anos a ser produzida e desejo muito que seja publicada, porque a considero de leitura imprescindível.

A Humanidade está, tal como referido no dito livro, obcecada com o tempo, desde a Grécia antiga, onde muitos pensadores se debruçaram sobre a questão, até aos dias de hoje. A arte, de uma forma geral, mostra-nos o seu interesse pelo tema, como, por exemplo nos casos do livro de Oscar Wilde, “O retrato de Dorian Gray”, no qual um retrato, uma pintura, envelhece no lugar do modelo; o filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”, do realizador David Fincher, que mostra um homem que nasce idoso e rejuvenesce à medida que o tempo passa; ou, ainda, o tema “Forever Young”, dos Alphaville, uma banda alemã de synth-pop.

Presumo que o caro leitor, inevitavelmente, se tenha debruçado sobre este assunto em algum momento. Ora, a cada dia que passa, somos confrontados com a realidade da transitoriedade. As marcas do tempo revelam-se nos nossos corpos, nos rostos daqueles que amamos, e até mesmo nas paisagens ao nosso redor. As estações do ano, com as suas mudanças cíclicas, são um lembrete constante de que tudo na vida é passageiro.

A perceção da passagem do tempo é também – e, sobretudo – psicológica, quando nos deparamos com aqueles “dias intermináveis”, ou com outros que passaram demasiado rápido, sendo que, ambos, corressem dentro das normais vinte e quatro horas, tempo que o relógio, esse grande ditador, sempre dita. A perceção do tempo também varia de acordo com as fases da vida. Para as crianças, os dias parecem longos; para os adultos, o tempo parece passar muito depressa. Porque razão percecionamos desta forma? Porque, por exemplo, para uma criança de dez anos, recordar os últimos cinco, metade, portanto, seria como alguém que tenha cinquenta anos e recordar os últimos vinte e cinco, um período, por conseguinte, muito mais longo.

Assim, a passagem do tempo mostra-nos a importância da valorização das relações, da tentativa de se encontrar significado nas pequenas coisas, e de reconhecer que, embora o tempo seja finito, o que se faz com ele pode ter um impacto duradouro. Em última análise, o tempo é tanto nosso aliado como nosso adversário. Ele dá-nos a oportunidade de crescer, aprender e evoluir, mas também nos recorda que a vida é breve e preciosa. E, assim, seguimos em frente, cientes de que o tempo não espera por ninguém, mas que cada instante oferece a oportunidade de fazer algo significativo.

Nunca seremos tão novos como neste momento – nem eu, nem o caro leitor. Às vezes precisamos de constatar o óbvio para nos ajudarmos a refletir. Cada segundo que passa é único e irrepetível. O tempo é uma sucessão infinita de agoras, e, talvez seja esse o maior desafio que enfrentamos: aprender a viver o presente, sem nos deixarmos consumir pelo passado ou pelo futuro.

Daí, a questão: o que anda a adiar?

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