Ouro ultrapassa euro nas reservas de Bancos Centrais

O ouro já alcançou um novo patamar nas reservas dos bancos centrais globais e tornou-se o segundo ativo com maior peso, superando o euro. Este facto é impulsionado pelas tensões geopolíticas, tarifas comerciais e a corrida dos bancos centrais para reforçar as suas reservas do metal precioso, que tem atingido sucessivos máximos históricos.

De acordo com um relatório divulgado esta quarta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), o peso do ouro nas reservas estrangeiras oficiais totais subiu para 20% no final de 2024. Este aumento é justificado tanto aos preços recordes do metal como pelas compras por parte dos bancos centrais, que duplicaram as suas reservas para mais de 1.000 toneladas na última década. No mesmo período, as cotações do ouro dispararam cerca de 30%.

Em contraste, o euro manteve-se nos 16% do peso nas reservas. Os dados do BCE revelam que os bancos centrais têm hoje quase tanto ouro nos seus cofres (36 mil toneladas em 2024) como em 1965 (máximo de 38 mil toneladas), recordando a era de Bretton Woods, quando as taxas de câmbio eram fixadas em relação ao dólar americano, conversível em ouro.

A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 destaca-se como um dos principais catalisadores do disparo da compra de ouro pelos bancos centrais e investidores, que procuram o metal para refúgio. «A procura por ouro para reservas monetárias aumentou acentuadamente e permaneceu alta», referem os especialistas do BCE, Anja Brüggen, Maurizio Michael Habib, Roger Gomis e Alessandro Vallin, num artigo do relatório.

Pesquisas recentes do BCE mostram, ainda, que a imposição de sanções financeiras está associada a aumentos na participação do ouro nas reservas dos bancos centrais. Cinco dos dez maiores aumentos anuais da participação do ouro nas reservas cambiais desde 1999 ocorreram em países que enfrentaram sanções no mesmo ano ou no ano anterior. Os países geopoliticamente mais próximos da China e da Rússia contam com os maiores aumentos no peso do ouro nas reservas desde o último trimestre de 2021.

Impacto em Portugal

A forte procura pelo ouro impulsiona os seus preços para níveis inéditos, com o metal a escalar 27% desde o início do ano, superando a fasquia dos 3.500 dólares.

Ricardo Evangelista, CEO da Activtrades Europe, diz que «as tensões geopolíticas e as incertezas em relação às perspetivas económicas globais a longo prazo têm reforçado o apelo do ouro como ativo de refúgio». No entanto, o otimismo nas negociações comerciais entre os EUA e a China, que pode evitar uma guerra comercial em larga escala, aumenta o apetite por ativos de risco, como as ações, em detrimento do ouro.

Em Portugal, a escalada dos preços valorizou as reservas do Banco de Portugal. As 382,7 toneladas de ouro detidas valiam 30,9 mil milhões de euros no final do ano passado, numa valorização de 34,5% em relação a 2023.

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