O Parlamento do Canadá abriu portas na segunda-feira para celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, sublinhando o contributo da diáspora lusa para o país e reforçando o vínculo entre Lisboa e Otava.
A celebração integrou-se no Mês do Património Português no Canadá, oficialmente reconhecido desde 2017, e serviu de palco para a afirmação pública da presença portuguesa no tecido político e social canadiano.
Para o embaixador de Portugal no Canadá, Fernando Leão Rocha, que se prepara para concluir o seu mandato, o gesto do Parlamento canadiano é mais do que protocolar — é sinal de uma relação consolidada.
“O Canadá não assinala estas datas com todos os países com quem mantém relações. O facto de o fazer com Portugal é revelador de uma ligação especial e de um apreço mútuo que se construiu ao longo de décadas”, afirmou à Lusa.
A dimensão afetiva e identitária da celebração não passou despercebida. Para Leão Rocha, garantir o futuro da comunidade passa por manter viva a sua expressão cultural mais profunda.
“Preservar a língua portuguesa é essencial. É o nosso elo geracional, o instrumento que assegura a continuidade da nossa identidade.”
O peso da representação política da comunidade foi também visível.
A deputada federal Alexandra Mendes, vice-presidente adjunta da Câmara dos Comuns e anfitriã do evento, destacou o simbolismo de ver o Parlamento acolher esta cerimónia num espírito plural e apartidário.
“Podemos ser apenas quatro deputados de origem portuguesa, mas estamos aqui, visíveis, ativos, e com uma voz que se faz ouvir. O apoio dos nossos colegas de outras origens e bancadas demonstra o respeito e o reconhecimento que a comunidade conquistou.”
Também Charles Sousa, ex-ministro das Finanças do Ontário e agora deputado federal, fez questão de sublinhar o impacto histórico dos luso-canadianos, evocando os primeiros emigrantes que chegaram nos anos 1950 e salientou que o legado dessa geração continua a crescer.
“O Canadá é hoje mais forte graças aos portugueses. Do esforço silencioso da primeira geração à vitalidade e protagonismo da terceira, esta é uma comunidade que nunca deixou de contribuir.”
Peter Fonseca, outro dos deputados presentes, recorreu ao simbolismo arquitetónico para destacar a presença física e histórica dos portugueses na capital. “Este Parlamento foi erguido com pedra — e muitas dessas pedras foram colocadas por mãos portuguesas. Celebrar o Dia de Portugal aqui é, também, celebrar esse esforço invisível, mas essencial”.
No hemiciclo da diplomacia, a deputada Julie Dzerowicz, representante do círculo de Davenport — onde reside a maior comunidade portuguesa do Canadá — e colíder do Grupo de Amizade Parlamentar Canadá-Portugal, destacou a transversalidade da celebração.
“A identidade portuguesa faz parte da paisagem cultural canadiana. E esta celebração, apartidária, reflete a riqueza que a diversidade traz ao país.”
EXPERIÊNCIA PARTILHADA
Do lado da oposição, Connie Cody, deputada conservadora por Cambridge, e Jenny Kwan, do NDP por Vancouver Leste, reforçaram a importância das pontes humanas entre os dois países. Kwan foi mais longe e apontou Portugal como exemplo no domínio das políticas públicas de saúde.
“O modelo português de combate às dependências é inspirador. Celebrações como esta também servem para aprendermos uns com os outros e reconhecermos o valor da experiência partilhada.”
De acordo com o recenseamento de 2021, vivem atualmente no Canadá cerca de 480 mil cidadãos de origem portuguesa, com forte presença nas províncias do Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica.
A comunidade tem vindo a afirmar-se nas mais diversas áreas — da política às artes, da economia ao desporto.
O único deputado federal luso-canadiano ausente foi Carlos Leitão, que participou em nome do Governo do Canadá na inauguração de um novo centro tecnológico no Quebeque.